domingo, outubro 26, 2014

“AMARÁS O SENHOR, TEU DEUS, COM TODO O TEU CORAÇÃO (…) AMARÁS TEU PRÓXIMO COMO A TI MESMO” - 30º DOMINGO DO TEMPO COMUM 2014


Homilia de Padre Marcos Belizário Ferreira
A cena narrada nos evangelhos tem como pano de fundo uma atmosfera religiosa em que sacerdotes e mestres da Lei classificam centenas de mandamentos da Lei divina em “fáceis”e “difíceis”, “graves” e “leves”, “pequenos” e “grandes”. É quase impossível mover-se com um coração saudável nessa rede.
A pergunta que fazem a Jesus procura recuperar o essencial, descobrir o “espírito perdido”. Qual é o mandamento principal? O que é o essencial? Onde está o núcleo de tudo? A resposta de Jesus resume a fé de Israel: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu ser”. “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”.

Que ninguém pense que, ao falar do amor a Deus, se está falando de emoções ou sentimentos para com um Ser imaginário, nem de convites a orações e devoções. 
“Amar a Deus com todo o coração” é reconhecer humildemente o Mistério último da vida; orientar confiantemente a existência de acordo com sua vontade: amar a Deus como Pai, que é bom e nos quer bem.

Tudo isto marca decisivamente a vida, pois significa louvar a existência a partir de sua raiz; participar na vida com gratidão; optar sempre pelo bom e pelo belo. Viver com coração de carne e não de pedra; resistir a tudo que trai a vontade de Deus negando a vida e a dignidade de seus filhos e filhas.
Por isso o amor a Deus é inseparável do amor aos irmãos. Assim o lembra Jesus: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. O amor real a Deus não é possível sem dar atenção ao sofrimento de seus filhos e filhas. Que religião seria aquela em que a fome dos desnutridos ou o excesso dos satisfeitos não provocasse nenhuma pergunta nem preocupação aos crentes? Não estão desencaminhados aqueles que resumem a religião de Jesus como “paixão por Deus e compaixão pela humanidade”.

Jesus resumiu tudo no amor, associando de maneira íntima e inseparável dois preceitos que o povo judeu conhecia muito bem: “Amarás o Senhor , teu Deus. De todo teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu ser”; “Amarás teu próximo como a ti mesmo”.
Tudo se reduz a viver o amor a Deus e o amor aos irmãos. Segundo Jesus, daí deriva tudo. Para muitas pessoas, isto poderá parecer conhecido demais, muito velho e totalmente ineficaz. E, não obstante, hoje mais do que nunca precisamos lembrá-lo: saber amar é a única coisa que importa.
Por que tanta gente parece tão infeliz? Por que as coisas que possuímos nos deixam, no fim das contas, tão vazios e insatisfeitos? Por que não acertamos construir uma sociedade melhor, sem recorrer à extorsão, à mentira ou à violência? O que  nos falta é o amor.
Pouco a pouco a falta de amor vai fazendo do ser humano um solitário, um ser sempre atarefado e nunca satisfeito. A falta de amor vai desumanizando nossos esforços e lutas para obter determinados objetivos políticos e sociais. 
Falta-nos amor. E, se nos falta amor, falta-nos tudo.Perdemos nossas raízes. Abandonamos a fonte mais importante de vida e felicidade.
Jesus não confundiu o amor a Deus com o amor ao irmão. O “mandamento principal e primeiro”continua sendo amar a Deus, buscar sua vontade, ouvir seu chamado. Mas não se pode amar “com todo o nosso ser a esse Deus Pai, sem amar com todas as nossas forças aos irmãos.
Ouve-se falar de uma renovação de nossa sociedade, de uma reforma de estruturas. Mas poucos se preocupam em acrescentar sua capacidade de amar. 
No entanto, por muitas que sejam nossas conquistas sociais, pouco terão mudado as coisas, se continuarmos tão imunizados ao amor, à atenção aos desvalidos, ao serviço gratuito, à generosidade desinteressada ou ao compartilhar com os necessitados.
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