quarta-feira, março 25, 2015

O "FIAT" DE MARIA SANTÍSSIMA - SOLENIDADE DA ANUNCIAÇÃO DO SENHOR


Sobre a conhecidíssima e tão comentada passagem evangélica da Anunciação, pareceria não haver nada de novo a dizer. Entretanto, como um vinho excelente apresenta aspectos diferentes em cada safra, assim também acontece com o magno acontecimento da Encarnação do Verbo, no qual sempre descobriremos novas e magníficas maravilhas.

"O ANJO ENTROU ONDE ELA ESTAVA...".
Maria Santíssima orando ao Pai recolhida no seu aposento, que São Bernardo descreve a cena da Anunciação, pondo em realce a importância da oração para Deus manifestar-Se. Pois uma coisa é evidente: as preces d'Ela comoveram os Céus: "A saudação do anjo, feita com tanta reverência, indica quanto as orações de Maria haviam agradado ao Altíssimo"

Numa de suas meditações sobre a vida de Cristo, São Boaventura nos apresenta a jovem Maria levantando-Se à meia noite no Templo para fazer sete súplicas diante do Altar e rezando desta forma: "Eu Lhe pedia a graça de presenciar o tempo no qual haveria de nascer aquela Virgem Santíssima que daria à luz o Filho de Deus, de conservar-me os olhos para poder vê-La, a língua para louvá-La, as mãos para servi-La, os pés para ir aonde Ela mandar e os joelhos para adorar o Filho de Deus em seu regaço".

Sua humildade A impedia de concluir quem haveria de ser essa Dama à qual desejava ardentemente servir, mas, possuindo ciência infusa e recebendo graças sobre graças, foi tecendo considerações até conceber em seu espírito, com total nitidez, a figura moral do Messias prometido. Maria "concebeu Cristo em sua mente antes de concebê-Lo em seu ventre", afirma Santo Agostinho.

Ao ver iluminar-se o aposento por uma luz sobrenatural e aparecer diante d'Ela o Arcanjo São Gabriel, Maria não deu o menor sinal de espanto. Segundo vários autores, entre eles São Pedro Crisólogo e São Boaventura, Ela estava "habituada às aparições angélicas, as quais não podiam deixar de ser frequentes para Aquela que Deus havia cumulado de tantas graças, que reservava para tão altos destinos, e que os anjos reverenciavam como sua Rainha e a própria Mãe de Deus". 

"O anjo, então, disse-Lhe: ‘Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus'".

E POR QUE ENCONTROU ELA GRAÇA DIANTE DE DEUS?
A resposta, no-la dá São Bernardo: "Se Maria não fosse humilde, não desceria sobre Ela o Espírito Santo; e, se Este não descesse, Ela não conceberia pelo poder d'Ele. Pois como poderia conceber d'Ele sem Ele? É claro, portanto, que, para Ela conceber d'Ele, ‘o Senhor olhou para a humildade de sua serva' (Lc 1, 48) muito mais do que para a sua virgindade; e, embora tenha por sua virgindade agradado a Deus, foi pela humildade que concebeu".

"Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai Davi. Ele reinará para sempre sobre os descendentes de Jacó, e o seu reino não terá fim".

PERPLEXIDADE DIANTE DO ANÚNCIO
Aqui resplandece a Fé de todo incomum de Nossa Senhora, ante o anúncio feito pelo Anjo. Ao ouvi-lo dizer "conceberás e darás à luz um filho", reconhece tratar-se de fato de uma mensagem divina, e não põe obstáculo algum à sua realização. Porém, entre as graças das quais Ela estava plena, reluzia um insuperável amor à virtude da castidade. Desposada com São José, combinou com ele manterem-se virgens por toda a vida. E é nesse sentido que se deve entender a expressão "não conheço homem algum". Podemos supor ter havido longas conversas entre Ela e São José a esse respeito, chegando à conclusão de ser claramente inspirado por Deus o voto de castidade feito por ambos. Mesmo com essa convicção bem arraigada na alma, Ela não duvidara das palavras de São Gabriel. Apenas apresenta-lhe sua perplexidade, visando conhecer mais a fundo como haveria de concretizar-se o desígnio divino.

"O anjo respondeu: ‘O Espírito virá sobre Ti, e o poder do Altíssimo Te cobrirá com sua sombra. Por isso, o menino que vai nascer será chamado Santo, Filho de Deus. Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice. Este já é o sexto mês daquela que era considerada estéril,  porque para Deus nada é impossível'"

ORIGEM INTEIRAMENTE SOBRENATURAL DO VERBO ENCARNADO
Quem senão Deus, seu Criador, conhecia o amor extraordinário da Virgem Santíssima à virtude da pureza? Por isso Ele, que é a Delicadeza em essência, teve o cuidado de mandar o celeste mensageiro resolver com extraordinária elevação e reverência sua santa perplexidade.
Conhecendo por instrução divina o problema que a maternidade divina levantava n'Ela, o anjo Lhe mostra que, assim como havia concedido à sua prima Isabel conceber um filho na velhice, a Onipotência divina poderia fazê-La conceber sem concurso de varão. E Ela, resplandecente de sabedoria e inteligência, entende em toda a sua profundidade as explicações do Anjo e logo as aceita.
A origem inteiramente sobrenatural do Verbo Encarnado foi revelada naquele momento. Que considerações não deve ter feito Maria ao conhecer o alcance desse acontecimento! Maria gerou no tempo a mesma Pessoa gerada pelo Pai na eternidade.

"Maria, então, disse: ‘Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em Mim segundo a tua palavra!'. E o anjo retirou-se".

A partir desse ato de radical aceitação, todo ele feito de humildade e de fé, operou-se logo em seguida a concepção do Verbo Encarnado no seu seio virginal. Consideremos agora um aspecto particularmente comovedor desse fiat.
O Verbo de Deus foi gerado pelo Pai desde toda a eternidade. Conhecendo-Se a Si mesmo, Ele gerou um Filho eterno sem concurso de mãe alguma, de uma forma misteriosa que nossa inteligência não consegue compreender. Ora, logo após o consentimento da Virgem - "Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em Mim segundo a tua palavra" -, o Espírito Santo iniciou n'Ela o processo de gestação do Verbo Encarnado. Ela tornou-Se Mãe sem concurso de pai natural.
Há, pois, entre o Pai Eterno e Maria Santíssima um paralelo de impressionante grandeza: ao considerar suas próprias magnificências, Este gera o Filho na eternidade; e Maria, pondo nas mãos de Deus sua própria contingência, gera o Filho de Deus no tempo!

POR SER A MAIS HUMILDE DE TODAS AS CRIATURAS, NOSSA SENHORA REPRODUZ DE ALGUM MODO A GERAÇÃO DO VERBO NA ETERNIDADE, AO DAR ORIGEM NA TERRA À NATUREZA HUMANA DE NOSSO SENHOR.
  O Pai criou todas as coisas no Verbo e pelo Verbo; pela Encarnação, Maria vai permitir ao Filho oferecer-Se em sacrifício ao Pai, para a recuperação de todas as coisas degradadas pelo pecado.
O grandioso plano da Encarnação e da Redenção do gênero humano esteve na dependência desse fiat de Maria, porque se, por uma hipótese absurda, Ela não tivesse aceitado, não teria havido a Redenção.

Por isso, a Solenidade da Anunciação do Senhor celebra a restauração da harmonia no universo. É a comemoração do dia em que a Criação passou a transluzir com um brilho todo divino, pelos méritos de Maria Santíssima.

RECITAÇÃO DO MAGNIFICAT
A alegria da alma no Senhor 
A minha alma engrandece ao Senhor e se alegrou o meu espírito em Deus, meu Salvador; pois ele viu a pequenez de sua serva, desde agora as gerações hão de chamar-me de bendita.
 O Poderoso fez por mim maravilhas
e Santo é o seu nome!
 Seu amor, de geração em geração,
chega a todos que o respeitam; demonstrou o poder de seu braço, dispersou os orgulhosos;  derrubou os poderosos de seus tronos e os humildes exaltou;
De bens saciou os famintos, e despediu, sem nada, os ricos.
Acolheu Israel, seu servidor, fiel ao seu amor, como havia prometido aos nossos pais, em favor de Abraão e de seus filhos, para sempre.

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

arautos.org/liturgiadashoras.org

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