domingo, março 22, 2015

ORAÇÃO DA VIA SACRA NO CONDOMÍNIO VILLAGE SÃO CONRADO 2015


I ESTAÇÃO
Jesus condenado à morte
O dedo em riste que acusa

Do Evangelho segundo São Lucas 23, 21-25
«De novo Pilatos dirigiu-lhes a palavra, querendo libertar Jesus. Mas eles gritavam: “Crucifica-O! Crucifica-O!” Pilatos disse-lhes pela terceira vez: “Que mal fez Ele, então? Nada encontrei n’Ele que mereça a morte. Por isso, vou libertá-Lo, depois de O castigar”. Mas eles insistiam em altos brados, pedindo que fosse crucificado, e os seus clamores aumentavam de violência. Então, Pilatos decidiu que se fizesse o que eles pediam. Libertou o que fora preso por sedição e homicídio, e entregou-lhes Jesus para o que eles queriam».
II ESTAÇÃO
Jesus é carregado com a Cruz
O madeiro pesado da crise

Da primeira Carta de São Pedro 2, 24-25
«Subindo ao madeiro, Jesus levou os nossos pecados no seu corpo, para que, mortos para o pecado, vivamos para a justiça: pelas suas feridas, fostes curados. Na verdade, éreis como ovelhas desgarradas, mas agora voltastes ao Pastor e Guarda das vossas almas».
Aquele madeiro da cruz pesa, porque nele Jesus leva os pecados de todos nós. Cambaleia sob aquele peso, grande demais para um homem só (Jo 19, 17).
Nele está também o peso de todas as injustiças que produziram a crise econômica, com as suas graves consequências sociais: precariedade, desemprego, demissões, dinheiro que governa em vez de servir, especulação financeira, suicídios de empresários, corrupção e usura, juntamente com empresas que deixam os países».

III ESTAÇÃO
Jesus cai pela primeira vez
A fragilidade que nos abre ao acolhimento

Do Livro do profeta Isaías 53, 4-5
«Ele tomou sobre si as nossas doenças, carregou as nossas dores. Nós o reputávamos como um leproso, ferido por Deus e humilhado. Mas foi ferido por causa dos nossos crimes, esmagado por causa das nossas iniquidades. O castigo que nos salva caiu sobre ele».
É um Jesus frágil, humaníssimo, Aquele que contemplamos, maravilhados, nesta estação de grande sofrimento. Precisamente esta sua queda, no pó, revela-nos ainda mais o seu amor imenso. 
É empurrado pela multidão, atordoado pelos gritos dos soldados, sofre a ardência das chagas da flagelação, cheio de amargura interior pela imensa ingratidão humana. E cai. Cai por terra. Mas nesta queda, cedendo ao peso e à fadiga, uma vez mais Jesus faz-Se Mestre de vida. Ensina-nos a aceitar as nossas fragilidades, a não desanimar com os nossos fracassos, a reconhecer com lealdade as nossas limitações: «Querer o bem – diz São Paulo – está ao meu alcance, mas realizá-lo, isso não» (Rm 7, 18)
IV ESTAÇÃO
Jesus encontra a Mãe
As lágrimas solidárias

Do Evangelho de São Lucas e da Carta de São Paulo aos Romanos
«Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: “Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; uma espada trespassará a tua alma» (Lc 2, 34-35). «Chorai com os que choram. Preocupai-vos em andar de acordo uns com os outros» (Rm 12, 15-16).
Carregado de emoção e de lágrimas pungentes é este encontro de Jesus com sua Mãe, Maria. Exprime-se nele a força invencível do amor materno, que supera todo o obstáculo e sabe abrir qualquer estrada. Mas ainda mais vivo é o olhar solidário de Maria, que se solidariza e dá força ao Filho. Assim o nosso coração enche-se de maravilha, ao contemplar a grandeza de Maria precisamente no fato de, sendo Ela criatura, se fazer o «próximo» do seu Deus e Senhor.

V ESTAÇÃO
Simão de Cirene ajuda Jesus a levar a Cruz
A mão amiga que levanta

Do Evangelho segundo São Marcos 15, 21
«Para Lhe levar a cruz, requisitaram um homem que passava por ali ao regressar dos campos, um tal Simão de Cirene, pai de Alexandre e de Rufo».
Simão de Cirene passa por acaso. Mas torna-se um encontro decisivo na sua vida. Voltava dos campos. Homem de fadiga e de vigor. Por isso, foi forçado a levar a cruz de Jesus, condenado a uma morte infame (cf. Fil 2, 8).
Mas, aquele encontro transformar-se-á, de casual, num decisivo e vital seguimento atrás de Jesus, carregando dia a dia a sua cruz, renegando-se a si mesmo (cf. Mt 16, 24-25). 
Com efeito, Simão é recordado por Marcos como o pai de dois cristãos conhecidos na comunidade de Roma: Alexandre e Rufo. Um pai que, de certeza, imprimiu no coração dos filhos a força da cruz de Jesus. É que a vida, se a guardas demasiado para ti, torna-se pesada e árida. Mas, se a ofereces, floresce tornando-se espiga de trigo para ti e para toda a comunidade.

VI ESTAÇÃO
A Verônica limpa o rosto de Jesus
A ternura feminina

Do Livro dos Salmos Sal 27, 8-9
«O meu coração murmura por Ti, os meus olhos Te procuram; é a tua face que eu procuro, Senhor. Não desvies de mim o teu rosto, nem afastes, com ira, o teu servo. Tu és o meu amparo: não me rejeites nem abandones, ó Deus, meu Salvador».
Jesus lá se vai arrastando com dificuldade, ofegante. Mas a luz no seu rosto permanece intacta. Não há ofensa que possa sobrepor-se à sua beleza. Os escarros não a obscureceram. As bofetadas não conseguiram apagá-la. Aquele rosto apresenta-se como uma sarça ardente, que quanto mais é ultrajado tanto mais consegue emanar uma luz de salvação. Caem lágrimas silenciosas dos olhos do Mestre. Carrega o peso do abandono. E no entanto Jesus avança, não para, não volta para trás. Enfrenta a opressão. 
Perturba-O a crueldade, mas Ele sabe que o seu morrer não será em vão.
Então, Jesus para diante de uma mulher que vem ao seu encontro, sem qualquer hesitação. É a Verônica, verdadeira imagem feminina da ternura.
Aqui o Senhor encarna a nossa necessidade de amorosa gratuidade, de nos sentirmos amados e protegidos por gestos de carinho e cuidado. As carícias desta criatura ficam banhadas pelo sangue precioso de Jesus e parecem cancelar os atos de profanação que Ele recebeu naquelas horas de tortura.
VII ESTAÇÃO
Jesus cai pela segunda vez
A angústia da prisão e da tortura

Do Livro dos Salmos Sal 117, 11.12-13.18
«Rodearam-me (...). Cercaram-me como um enxame de vespas, a sua fúria crepitava como fogo entre espinhos, mas eu aniquilei-os em nome do Senhor. Empurraram-me com violência para eu cair, mas o Senhor veio em meu auxílio. (...) O Senhor castigou-me com dureza, mas não me deixou morrer».
Em Jesus cumprem-se verdadeiramente as antigas profecias do Servo humilde e obediente, que toma sobre os seus ombros toda a nossa história de sofrimento. N’Ele reconhecemos a amarga experiência dos encarcerados de cada prisão, com todas as suas desumanas contradições. Rodeados e cercados, «empurrados violentamente para cair». Hoje, a prisão continua a ser demasiado distante, esquecida, repudiada pela sociedade civil. Existem a lentidão da burocracia e da justiça. Dupla pena é ainda a superlotação: é um sofrimento agravado, uma opressão injusta, que consome a carne e os ossos.
Hoje, à vista desta queda, como sentimos verdadeiras as palavras de Jesus: «Estive na prisão e fostes ter comigo» (Mt 25, 36). Em cada prisão, junto de cada torturado, está sempre Ele, o Cristo sofredor, preso e torturado.
  
VIII ESTAÇÃO
Jesus encontra as mulheres de Jerusalém
Partilha e não comiseração

Do Evangelho segundo São Lucas 23, 28
«Filhas de Jerusalém, não choreis por Mim, chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos».
Como tochas acesas, nos aparecem as figuras femininas ao longo da via dolorosa. Mulheres de fidelidade e coragem, que não se deixam intimidar pelos guardas nem escandalizar pelas chagas do Bom Mestre. Estão prontas a encontrá-Lo e a consolá-Lo. Jesus está ali na frente delas. Há quem O espezinhe no momento em que cai por terra exausto. Mas, as mulheres estão ali, prontas a oferecer-Lhe aquele palpitar caloroso que o coração já não consegue conter. Primeiro, olham-No de longe, mas depois aproximam-se d’Ele como faz todo o amigo, todo o irmão ou irmã, quando se apercebe da dificuldade que vive a pessoa amada.
Jesus é sensível às suas lágrimas amargas, mas exorta-as a não consumirem o coração vendo-O assim maltratado, a não serem mais mulheres lacrimantes, mas crentes! Pede uma dor compartilhada e não uma comiseração estéril e lacrimosa. Não mais lamentações, mas vontade de renascer, olhar em frente, avançar com fé e esperança para aquela aurora de luz que surgirá ainda mais deslumbrante sobre a cabeça de quantos caminham rumo a Deus. Choremos sobre nós mesmos, se ainda não acreditamos naquele Jesus que nos anunciou o Reino da salvação. Choremos pelos nossos pecados não confessados.
IX ESTAÇÃO
Jesus cai pela terceira vez
Vencer a má nostalgia

Da Carta de São Paulo aos Romanos 8, 35.37
«Quem poderá separar-nos do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? (…) Mas em tudo isso saímos mais do que vencedores, graças Àquele que nos amou».
São Paulo enumera as suas provações, mas sabe que, antes dele, passou por elas Jesus, que, no caminho para o Gólgota, cai uma, duas, três vezes. Destroçado pelas tribulações, a perseguição, a espada, oprimido pelo madeiro da cruz. Exausto! Parece dizer, como nós em muitos momentos sombrios: Não aguento mais!
É o grito dos perseguidos, dos moribundos, dos doentes terminais, dos oprimidos sob o jugo.
Aquele Jesus que cambaleia e cai, mas depois Se levanta, é a certeza duma esperança, que, nutrida pela oração intensa, nasce precisamente dentro da provação e não depois da provação nem sem a provação. Seremos mais do que vencedores, graças ao seu amor.

X ESTAÇÃO
Jesus é despojado das vestes
A unidade e a dignidade

Do Evangelho de São João 19, 23-24
«Os soldados, depois de terem crucificado Jesus, pegaram na roupa d’Ele e fizeram quatro partes, uma para cada soldado, excepto a túnica. A túnica, toda tecida de uma só peça de alto a baixo, não tinha costuras. Então os soldados disseram uns aos outros: “Não a rasguemos; tiremo-la à sorte, para ver a quem tocará”. Assim se cumpriu a Escritura que diz: Repartiram entre eles as minhas vestes e sobre a minha túnica lançaram sortes”. E foi isto o que fizeram os soldados».
Nem sequer um pedaço de pano deixaram a cobrir o corpo de Jesus. Desnudaram-No. Não tinha manto nem túnica, não tinha veste alguma. Desnudaram-No como ato de extrema humilhação. Só o cobria o sangue, que borbotava das suas inúmeras feridas.
A túnica fica intacta: símbolo da unidade da Igreja, uma unidade que se deve reencontrar num caminho paciente, numa paz artesanal, construída cada dia, num tecido composto com os fios de ouro da fraternidade, na reconciliação e no perdão recíproco.
Em Jesus inocente, desnudado e torturado, reconhecemos a dignidade violada de todos os inocentes, especialmente dos humildes. Deus não impediu que o seu corpo, nu, fosse exposto na cruz. Fê-lo para resgatar todo o abuso, injustamente coberto, e demonstrar que Ele, Deus, está irrevogavelmente e sem meios termos da parte das vítimas.
 
XI ESTAÇÃO
Jesus é pregado na Cruz
No leito dos doentes

Do Evangelho segundo São Marcos 15, 24-28
«Depois, crucificaram-No e repartiram entre si as suas vestes, tirando-as à sorte, para ver o que cabia a cada um. Eram umas nove horas da manhã, quando O crucificaram. Na inscrição com a condenação, lia-se: “O rei dos judeus”. Com Ele crucificaram dois ladrões, um à sua direita e o outro à sua esquerda. Deste modo, cumpriu-se a passagem da Escritura que diz: Foi contado entre os malfeitores»

E crucificaram-No! A punição dos infames, dos traidores, dos escravos rebeldes. Esta é a condenação reservada a Jesus, Senhor nosso: cravos ásperos, dores pungentes, a angústia da mãe, as vestes divididas como despojo entre os soldados, as zombarias cruéis dos transeuntes: «Salvou os outros e não pode salvar-Se a Si mesmo (...), desça da cruz e acreditaremos n’Ele» (Mt 27, 42).
E crucificaram-No! Jesus não desce, não abandona a cruz. Permanece, profundamente obediente à vontade do Pai. Ama e perdoa.

XII ESTAÇÃO
Jesus morre na Cruz
O gemido das sete palavras

Do Evangelho segundo São João 19, 28-30
«Depois disso, Jesus, sabendo que tudo se consumara, para se cumprir totalmente a Escritura, disse: “Tenho sede!” Havia ali uma vasilha cheia de vinagre. Então, ensopando no vinagre uma esponja fixada num ramo de hissopo, chegaram-Lha à boca. Quando tomou o vinagre, Jesus disse: “Tudo está consumado”. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito».
Desde o meio-dia até às três horas da tarde, as trevas envolveram toda a terra. Cerca das três hora da tarde, Jesus clamou com voz forte: Eli, Eli, lemá sabacthani?, isto é: Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste?».
Jesus está na cruz. Horas de angústia, horas terríveis, horas de dores físicas desumanas. «Tenho sede»: diz Jesus. E levam-Lhe à boca uma esponja ensopada em vinagre.
XIII ESTAÇÃO
Jesus é descido da Cruz
O amor é mais forte do que a morte

Do Evangelho segundo João 19, 38
Depois disto, José de Arimatéia, que era discípulo de Jesus, mas secretamente por medo das autoridades judaicas, pediu a Pilatos que lhe deixasse levar o corpo de Jesus. E Pilatos permitiu-lho. Veio, pois, e retirou o corpo.
Maria vê morrer seu Filho, Filho de Deus e também d’Ela. Sabe que é inocente, mas carregou sobre Si o peso das nossas misérias. A Mãe oferece o Filho, o Filho oferece a Mãe. A João, a nós.
Jesus e Maria, eis um família que, no Calvário, vive e sofre a separação suprema. A morte divide-os, ou pelo menos parece dividi-los, uma mãe e um filho com um vínculo simultaneamente humano e divino inconcebível. Por amor, o oferecem. Abandonam-se ambos à Vontade de Deus.
Na voragem que se abriu no coração de Maria, entra outro filho, que representa a humanidade inteira. E o amor de Maria por cada um de nós é o prolongamento do amor que Ela teve por Jesus. Sim, porque, nos discípulos, verá o rosto d’Ele. E viverá para eles, para sustentá-los, ajudá-los, encorajá-los, levá-los a reconhecer o Amor de Deus, para que, na sua liberdade, se voltem para o Pai.
XIV ESTAÇÃO
Jesus é depositado no sepulcro
O jardim novo

Do Evangelho segundo São João 19, 41-42
«No sítio em que Ele tinha sido crucificado havia um jardim e, no jardim, um túmulo novo, onde ainda ninguém tinha sido sepultado. (…) Foi ali que puseram Jesus».
Aquele jardim no qual se encontra o túmulo onde Jesus é sepultado, lembra outro jardim: o do Éden. Um jardim que, por causa da desobediência, perdeu a sua beleza e tornou-se uma desolação, lugar de morte e já não de vida.
Os ramos selvagens que nos impedem de respirar a vontade de Deus, como o apego ao dinheiro, à soberba, ao desperdício da vida, devem ser cortados e enxertados agora no madeiro da Cruz. É este o novo jardim: a cruz plantada na terra!
Na morte de Cristo, ruíram todos os tronos do mal, fundados sobre a ganância e a dureza do coração. A morte desarma-nos, faz-nos compreender que estamos sujeitos a uma existência terrena que tem um termo. Mas é diante daquele corpo de Jesus, depositado no sepulcro, que tomamos consciência de quem somos: criaturas que, para não morrer, precisam do seu Criador.
O silêncio que envolve aquele jardim permite-nos ouvir o sussurro de uma brisa suave: «Eu sou o Vivente, e estou convosco» (Ex 3, 14). 

O VÉU DO TEMPLO RASGOU-SE. FINALMENTE VEMOS O ROSTO DE NOSSO SENHOR. E CONHECEMOS EM PLENITUDE O SEU NOME: MISERICÓRDIA E FIDELIDADE, PARA NUNCA MAIS FICARMOS CONFUNDIDOS, NEM MESMO DIANTE DA MORTE, PORQUE O FILHO DE DEUS CAMINHA LIVRE NO MEIO DOS MORTOS (cf. Sal 88, 6 Vulg.).

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