sábado, maio 30, 2015

MISTÉRIO TRINITÁRIO


Celebrar a Santíssima Trindade é celebrar o fato de que Deus é amor. Trata-se de um mistério insondável: Ele é eternamente Pai de um Filho que existe eternamente e o amor entre os dois – também eterno – é o Espírito Santo. A Trindade é revelada aos homens pela obra da salvação, pelo Senhor que envia ao mundo dois Paráclitos: Jesus e o Espírito.

Toda a vida da Igreja está impregnada pelo Mistério da Santíssima Trindade. E quando falamos aqui de mistério, não pensemos no incompreensível, mais na realidade mais profunda que atinge o núcleo do nosso ser e do nosso agir.

A revelação da Trindade é, portanto, uma cascata de amor: é o gesto supremo da condescendência divina para com o homem.

É Cristo quem nos revela a intimidade do mistério trinitário e o convite para que participemos dele. “Ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt, 11, 27).

 Ele revelou-nos também a existência do Espírito Santo junto com o Pai e enviou-o à Igreja para que a santificasse até o fim dos tempos; e revelou-nos a perfeitíssima Unidade de vida entre as Pessoas divinas (Cf. Jo16, 12-15).

O mistério da Santíssima Trindade é o ponto de partida de toda a verdade revelada e a fonte de que procede a vida sobrenatural e para a qual nos encaminhamos: somos filhos do Pai, irmãos e co-herdeiros do Filho, santificados continuamente pelo Espírito Santo para nos assemelharmos cada vez mais a Cristo.

Por ser o mistério central da vida da Igreja, a Santíssima Trindade é continuamente invocada em toda a liturgia.

Fomos batizados em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, e em seu nome perdoam-se os pecados; ao começarmos e ao terminarmos muitas orações, dirigimo-nos ao Pai, por mediação de Jesus Cristo, na unidade do Espírito Santo. Muitas vezes ao longo do dia, nós, os cristãos repetimos: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.

Desde que o homem é chamado a participar da própria vida divina pela graça recebida no Batismo, está destinado a participar cada vez mais dessa Vida. É um caminho que é preciso percorrer continuamente.

A Santíssima Trindade habita na nossa
alma como num templo. E São Paulo faz-nos saber que o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado (Cf. Rm 5, 5). 

E aí, na intimidade da alma, temos de nos acostumar a relacionar-nos com Deus Pai, com Deus Filho e com Deus Espírito Santo. Dizia Santa Catarina de Sena: “Vós, Trindade eterna, sois mar profundo, no qual quanto mais penetro, mais descubro, e quanto mais descubro, mais vos procuro”.

Imensa é a alegria por termos a presença da Santíssima Trindade na nossa alma! Esta alegria é destinada a todo cristão, chamado à santidade no meio dos seus afazeres profissionais e que deseja amar a Deus com todo o seu ser; se bem que, como diz Santa Teresa,

 “há muitas almas que permanecem rodando o castelo (da alma), no lugar onde montam guarda as sentinelas, e nada se lhes dá de penetrar nele. Não sabem o que existe em tão preciosa mansão, nem quem mora dentro dela”. Nessa “preciosa mansão”, na alma que resplandece pela graça, está Deus conosco: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Desde pequenos, aprendemos de nossos pais a fazer o sinal da cruz e chamar a Deus: de Pai, Filho e Espírito Santo.
Assim com toda a naturalidade, estávamos invocando o mistério mais profundo de nossa fé e da vida cristã: a Santíssima Trindade

Jesus promete o Espírito Santo: “Quando vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à plena Verdade”.

Quando se despede, no dia da Ascensão, afirma: “Ide… e batizai em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.”

A contemplação e o louvor à Santíssima Trindade são a substância da nossa vida sobrenatural, e esse é também o nosso fim: porque no Céu, junto de Nossa Senhora – Filha de Deus Pai, Mãe de Deus Filho, Esposa de Deus Espírito Santo: mais do que Ela, só Deus – , a nossa felicidade e o nosso júbilo serão um louvor eterno ao Pai, pelo Filho, no Espírito Santo.

 Estes vieram em nós no Batismo. Estabeleceram em nós sua habitação e nos são mais íntimos do que nós mesmos, diz Santo Agostinho. Em seu nome e no diálogo com eles desenvolve-se toda a nossa vida de fé, desde o berço até o túmulo. No limiar da existência fomos batizados “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. No ocaso dela, partiremos deste mundo ainda “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.
Fazendo o sinal da Cruz, nós declaramos a cada vez, nossa vontade de pertencer à Trindade.

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quinta-feira, maio 28, 2015

EDIFÍCIO CANOAS - TESTEMUNHO DE MARCOS RAUL SANT’ ANNA


Aconteceu no dia 18 de maio e causou a explosão e destruição de apartamentos do Edifício Canoas, na rua General Olímpio Mourão Filho, em São Conrado, na zona sul do Rio de Janeiro. Vários apartamentos foram danificados e quatro pessoas ficaram feridas, e o morador Marcos Muller do apartamento que explodiu e estava internado no Centro de Tratamento de Queimados Pedro II não resistiu e veio a falecer hoje, dia 28 de maio.
O edifício com 19 andares e 72 apartamentos, teve pedaços de concreto, de janelas e madeiras  espalhados até por edifícios vizinhos. Segundo a Defesa Civil, a explosão ocorreu no 10º andar, no apartamento onde morava Markos Muller.
Nesta quarta-feira, o diretor do Instituto de Criminalística Carlos Éboli Sérgio William, disse que a explosão no apartamento 1001, do prédio de 72 apartamentos, foi provocado pela má instalação do gás na cozinha. A conclusão da perícia é de que o ocorrido foi um acidente.
DEPOIMENTO SOBRE O ACIDENTE NO EDIFÍCIO CANOAS POR MARCOS RAUL SANT’ ANNA

Dia 18 de maio de 2015, 04:50h: saio de carro da garagem do edifício Canoas em direção a Bananal uma pequena cidade de São Paulo localizada a cerca de 180 km do Rio, onde participaria de uma reunião marcada para as 09:00h da manhã.

Às 05:50h, ocorreu no apartamento 1001 do edifício uma grande explosão da qual tomei conhecimento somente cerca de 1:40h após.
Por volta das 07:30h, chego ao meu destino e logo após recebo um telefonema de uma amiga perguntando se estava tudo bem. Respondi-lhe perguntando o porquê da pergunta e ela disse-me que havia explodido um prédio em São Conrado e queria saber se era o edifício onde morávamos.
 Desliguei e liguei imediatamente para a Tania que disse que estava tudo bem com ela e com o Felipe e que vários moradores já haviam saído do prédio sem ferimentos. Estava sozinho dentro do carro e ao desligar o telefone chorei de emoção e por não ter estado presente na hora do perigo e por não poder prestar nenhuma assistência.

Em outro telefonema perguntei a Tania porque não havia me informado sobre a explosão assim que ela e Felipe saíram do prédio. Ela me respondeu dizendo que sabia da importância da reunião da qual eu participaria e que não queria tirar minha tranquilidade. Decisão difícil, mas sábia, a qual muito agradeço.
Ao término da reunião e antes de chegar ao hotel vi na televisão de um posto de gasolina, ligada no programa da Fátima Bernardes, as imagens – as primeiras vistas por mim – do resultado da explosão. Num primeiro instante, não acreditei no que estava vendo. Penso que – não tenho certeza – a partir deste momento passei a agradecer a Deus a grande graça pelas vidas que foram preservadas e dos ferimentos graves que não ocorreram, com a exceção do morador do apartamento onde ocorrera a explosão.
Vários depoimentos confirmam a graça de Deus agindo de forma – posso afirmar – miraculosa, mas darei dois exemplos referentes a moradores de apartamentos vizinhos ao 1001:
- o primeiro é sobre o casal que morava no apartamento 1101, acima do apartamento que explodiu: eles haviam se mudado uma semana antes do acidente, para o apartamento deles, localizado no prédio e que estava em reforma;

- o segundo é do casal João e Nilde Smarcaro que moravam no apartamento 1003, vizinho ao apartamento 1001: poucos minutos antes da explosão, a Nilde e o João estavam na cozinha. Nilde voltou para o quarto e o João foi para o hall de serviço para pegar o elevador, pois desceria para passear com os cachorros. João pegou o elevador no 10º andar, e quando chegou no 3º andar ocorreu a explosão. Se ele tivesse permanecido mais 1 minuto no hall, o que o teria separado do núcleo da explosão seria a porta de serviço do apartamento 1001. Certamente não teria sobrevivido, pois estaria a pouco mais de 3 metros do núcleo da mesma.
Ao retornar ao Rio, solicitei ao Pe. Marcos  - que apesar da distância escutou a explosão - se seria possível que na Missa das 10:00h que seria celebrada no domingo dia 24, dia de Pentecostes, fosse colocada como intenção a ação de graças pela sobrevivência dos moradores e pela recuperação do Markus Muller, o morador do apartamento onde ocorreu a explosão e que se encontra com queimaduras em 50% do corpo. 

Apesar de nenhuma solicitação anterior, Pe. Marcos disse que já havia celebrado em ação de graças pelos moradores, mas que seria possível que a Missa do domingo celebrasse novamente estas intenções.
No início da celebração, com muitos moradores do edifício Canoas presentes, Pe. Marcos lembrou que antes de ler a Oração que precede a Liturgia da Palavra, ele sempre pedia pelos presentes, pelos paroquianos, e por todos os habitantes de São Conrado e que estas orações eram como “moedas depositadas no cofre, para serem utilizadas quando necessário”. Não sei afirmar ha quanto tempo Pe. Marcos repete essas intenções, mas provavelmente desde quando começou a celebrar na Matriz de São Conrado. Se ele não tivesse mencionado esse fato, antes da bênção final eu lhe pediria autorização para dar esse testemunho.
Por ocasião da homilia, Pe. Marcos fez reflexões entre as Leituras – incluído o Evangelho - associando-as ao ocorrido, dizendo que após a descida do Espírito Santo sobre Nossa Senhora e os apóstolos reunidos no cenáculo, as falas dos apóstolos, todos Galileus, que era entendida por todos os presentes apesar das distintas procedências era a língua do Amor, a mesma língua que os moradores do edifício Canoas estavam falando entre si. 

Essa verdade posso confirmar, tem predominado no relacionamento entre os condôminos, apesar das divergências naturais de todo grupo social, especialmente em momentos de crise. Na única votação havida, com 62 representantes dos apartamentos, 60 votaram a favor da proposta do síndico, isto é, 97%. É a primeira vez que ocorre essa proporção.

Marcos Raul Sant’ Anna
Paroquiano

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AS FONTES DO “MANUSCRITO” por Dom Fernando Arêas Rifan

DISTINGUIR O JOIO DO TRIGO, O BEM E O MAL, FICANDO COM O BEM E JOGANDO FORA E COMBATENDO O MAL. 

  O meu último artigo – “um manuscrito polêmico” -, na verdade uma crônica em forma de parábola, criada por mim, não sem base na história da Igreja primitiva, nos Evangelhos e nos Atos, com aplicação aos tempos atuais, foi uma forma de mostrar que sempre houve problemas e falhas humanas na Igreja, olhados com bom e com mau espírito.

 Hoje, como antigamente, diante da crise atual na Igreja e de tantos escândalos e heresias até nos meios eclesiais, muitos católicos se encontram, com razão, perplexos e até desarvorados, com risco de perderem a fé. Alguns, ponderados, sabem entender e distinguir o joio do trigo, o bem e o mal, ficando com o bem e jogando fora e combatendo o mal.
Outros atacam tudo, e até a Igreja como tal, caindo no mau espírito de crítica e lançando suspeitas sobre as pessoas.
  Por isso, escrevi aquele artigo, com o fim de reforçar a nossa fé na divindade da Igreja e nunca nos esquecermos da presença contínua do seu Divino Fundador e sua ação divina, através do Divino Espírito Santo, garantia da sua indefectibilidade e infalibilidade: “Eu estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt 28,20).

A Barca de Pedro nunca afundará (Mt 16,18). Muitos, ao verem-na balançando no meio das tempestades, duvidaram, pularam fora dela e pereceram, enquanto ela continua firme: “esta Sé de São Pedro permanece imune de todo erro, segundo a promessa de Nosso Divino Salvador feita ao Príncipe de Seus Apóstolos: ‘Eu roguei por ti, para que tua Fé não desfaleça; e tu, uma vez convertido, confirma teus irmãos’ (Lc 22,32).

Pois este carisma da verdade e da fé, que nunca falta, foi conferido a Pedro e a seus sucessores nesta cátedra...” (Conc. Ecum. Vaticano I, Constituição Dogmática Pastor Aeternus, sobre a Igreja de Cristo).
        
As “fontes” do “manuscrito” estão no Novo Testamento. Jesus chamou Judas e permitiu sua presença (Mt 10, 4), porque é bom e misericordioso, dando uma chance de mudança para todos até o final.
Os apóstolos, mesmo vendo as ambições de Judas, não imaginavam que ele fosse até à traição.

 A presença de pessoas más na Igreja foi explicada por Jesus na parábola da rede de pesca: “o Reino dos Céus (a Igreja) é semelhante a uma rede que, lançada ao mar, colheu peixes de todo tipo...”.
A separação dos maus dos justos só acontecerá no fim do mundo (Mt 13, 47-50). Na parábola do joio e do trigo, ele reforça a ideia da mistura de bons e maus em sua Igreja, que ele permite até o fim dos tempos (Mt 13, 24-30).

Quem desejava uma Igreja feita só de pessoas boas e puras eram os hereges “cátaros”. Quem pensa em uma Igreja só de santos, deve aguardar o Céu.
Os fariseus sempre criticaram Jesus, sistematicamente, observando-o continuamente para ver se o apanhavam em algum deslize (Lc 6, 7 e Mt 22, 15).

Os saduceus eram incrédulos (At 23 8), mas se uniam aos fariseus (Mt 16, 1). Sabe-se que toda comparação claudica e toda parábola é um tanto obscura, nem todos as entendiam. Mas os destinatários entendiam: “os fariseus ouviram as parábolas de Jesus e entenderam que estava falando deles” (Mt 21, 45).
  As divergências na Igreja primitiva são descritas nos Atos dos Apóstolos (At 6,1).
“Alguns da seita dos fariseus, que haviam abraçado a fé, protestaram...” (At 15, 5).

      São Paulo combateu os judaizantes, judeus cristãos que queriam que se conservassem as práticas do judaísmo, especialmente a circuncisão, e, por isso, resistiu a Pedro (Gl 2, 11-14). Depois disso, “por causa dos judeus que se encontravam nessas regiões”, circuncidou Timóteo (At 16,3).

As circunstâncias eram diferentes.São Gregório louva a discrição de São Paulo. E São João Crisóstomo, explicando o caso de São Paulo ter circuncidado Timóteo, atribuitantas conversões, que são descritas no versículo 5 desse mesmo capítulo, ao esforço de São Paulo pela concórdia (Cornélio a Lápide, ad rem) Ouçamos o conselho do grande São Bento, em sua regra, sobre a maledicência e a crítica de mau espírito: “Há um zelo mau, de amargura, que separa de Deus e conduz ao inferno” (Cap. 72, v.1) “Há caminhos considerados retos pelos homens cujo fim mergulha até o fundo do inferno” (VII, 21).
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney


terça-feira, maio 26, 2015

A EFUSÃO DO ESPÍRITO – PAPA FRANCISCO


O Santo Padre Francisco celebrou a missa deste Domingo de Pentecostes na Basílica Vaticana. A missa foi concelebrada por cardeais, arcebispos, bispos e sacerdotes.  Publicamos a seguir a homilia do Papa:
«Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós (...) Recebei o Espírito Santo» (Jo 20, 21.22): diz-nos Jesus. A efusão do Espírito, que tivera lugar na tarde da Ressurreição, repete-se no dia de Pentecostes, corroborada por sinais visíveis extraordinários.
 Na tarde de Páscoa, Jesus aparece aos Apóstolos e sopra sobre eles o seu Espírito (cf. Jo 20, 22); na manhã de Pentecostes, a efusão acontece de forma estrondosa, como um vento que se abate impetuoso sobre a casa e irrompe na mente e no coração dos Apóstolos. Como resultado, recebem uma força tal que os impele a anunciar, nas diferentes línguas, o evento da Ressurreição de Cristo: «Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas» (At 2, 4). Juntamente com eles, estava Maria, a Mãe de Jesus, a primeira discípula, e ali se torna Mãe da Igreja nascente. Com a sua paz, com o seu sorriso, com a sua maternidade, acompanhava a alegria da jovem Esposa, a Igreja de Jesus.
A palavra de Deus – especialmente neste dia – diz-nos que o Espírito age nas pessoas e comunidades que estão repletas d’Ele, fá-las capazes de receber Deus («capax Dei» – dizem os Santos Padres). E que faz o Espírito Santo por meio desta capacidade nova que nos dá? Guia para a verdade completa (Jo 16,13), renova a terra (Sal 103/104) e produz os seus frutos (Gal 5, 22-23). Guia, renova e dá frutos.

No Evangelho, Jesus promete aos seus discípulos que, quando Ele tiver regressado ao Pai, virá o Espírito Santo que os «há-de guiar para a verdade completa» (Jo 16, 13). Chama-Lhe precisamente «Espírito da verdade», explicando que a sua ação será introduzi-los sempre mais na compreensão daquilo que Ele, o Messias, disse e fez, nomeadamente da sua morte e ressurreição. 
Aos Apóstolos, incapazes de suportar o escândalo da Paixão do seu Mestre, o Espírito dará uma nova chave de leitura para os introduzir na verdade e beleza do evento da Salvação. Estes homens, antes temerosos e bloqueados, fechados no Cenáculo para evitar repercussões da Sexta-feira Santa, já não se envergonharão de ser discípulos de Cristo, já não tremerão perante os tribunais humanos. 

Graças ao Espírito Santo, de que estão repletos, compreendem «a verdade completa», ou seja, que a morte de Jesus não é a sua derrota, mas a máxima expressão do amor de Deus; um amor que, na Ressurreição, vence a morte e exalta Jesus como o Vivente, o Senhor, o Redentor do homem, o Senhor da história e do mundo. E esta realidade, de que são testemunhas, torna-se a Boa Notícia que deve ser anunciada a todos.
Depois o Espírito Santo renova – guia e renova – renova a terra. O Salmo diz: «Se envias o teu Espírito, (...) renovas a face da terra» (Sal 103/104, 30). A narração dos Atos dos Apóstolos sobre o nascimento da Igreja encontra uma significativa correspondência neste Salmo, que é um grande louvor de Deus Criador. O Espírito Santo, que Cristo enviou do Pai, e o Espírito que tudo vivifica são uma só e mesma pessoa.

 Por isso, o respeito pela criação é uma exigência da nossa fé: o «jardim» onde vivemos é-nos confiado, não para o explorarmos, mas para o cultivarmos e guardarmos com respeito (cf. Gn 2, 15). Mas isto só é possível, se Adão – o homem plasmado da terra – se deixar, por sua vez, renovar pelo Espírito Santo, se deixar re-plasmar pelo Pai segundo o modelo de Cristo, novo Adão.
 Então sim, renovados pelo Espírito, podemos viver a liberdade dos filhos em harmonia com toda a criação e, em cada criatura, podemos reconhecer um reflexo da glória do Criador, como se afirma noutro Salmo: «Ó Senhor, nosso Deus, como é admirável o teu nome em toda a terra!» (8, 2.10). Guia, renova e dá, dá fruto.

Na Carta aos Gálatas, São Paulo quer mostrar qual é o «fruto» que se manifesta na vida daqueles que caminham segundo o Espírito (5, 22). Temos, duma parte, a «carne» com o cortejo dos seus vícios elencados pelo Apóstolo, que são as obras do homem egoísta, fechado à ação da graça de Deus; mas, doutra, há o homem que, com a fé, deixa irromper em si mesmo o Espírito de Deus e, nele, florescem os dons divinos, resumidos em nove radiosas virtudes que Paulo chama o «fruto do Espírito». Daí o apelo, repetido no início e no fim como um programa de vida: «caminhai no Espírito»(Gal 5, 16.25).
O mundo tem necessidade de homens e mulheres que não estejam fechados, mas repletos de Espírito Santo. Para além de falta de liberdade, o fechamento ao Espírito Santo é também pecado. 

Há muitas maneiras de fechar-se ao Espírito Santo: no egoísmo do próprio benefício, no legalismo rígido – como a atitude dos doutores da lei que Jesus chama de hipócritas –, na falta de memória daquilo que Jesus ensinou, no viver a existência cristã não como serviço mas como interesse pessoal, e assim por diante. 
Ao contrário, o mundo necessita da coragem, da esperança, da fé e da perseverança dos discípulos de Cristo. O mundo precisa dos frutos, dos dons do Espírito Santo, como elenca São Paulo: «amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio» (Gal 5, 22). 

O dom do Espírito Santo foi concedido em abundância à Igreja e a cada um de nós, para podermos viver com fé genuína e caridade operosa, para podermos espalhar as sementes da reconciliação e da paz. 
FORTALECIDOS PELO ESPÍRITO – QUE GUIA, GUIA-NOS PARA A VERDADE, QUE NOS RENOVA A NÓS E À TERRA INTEIRA, E QUE NOS DÁ OS FRUTOS – FORTALECIDOS NO ESPÍRITO E POR ESTES MÚLTIPLOS DONS, TORNAMO-NOS CAPAZES DE LUTAR SEM ABDICAÇÕES CONTRA O PECADO, DE LUTAR SEM ABDICAÇÕES CONTRA A CORRUPÇÃO QUE DIA A DIA SE VAI ESTENDENDO SEMPRE MAIS NO MUNDO, E DEDICAR-NOS, COM PACIENTE PERSEVERANÇA, ÀS OBRAS DA JUSTIÇA E DA PAZ.
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domingo, maio 24, 2015

SOLENIDADE DE PENTECOSTES 2015

A SOLENIDADE DE PENTECOSTES É A FESTA DA UNIDADE PORQUE A OBRA DA REUNIFICAÇÃO FOI PROJETADA PELO PAI, REALIZADA EM CRISTO E ATUALIZADA PELO PODER DO ESPÍRITO SANTO

A Igreja conclui hoje o Tempo Pascal com a solenidade de Pentecostes. Não poderia ser diferente, pois o Espírito Santo é o fruto da paixão morte e ressurreição do Senhor Jesus. Ele morreu entregando na cruz o Espírito e, no mesmo Espírito, foi ressuscitado pelo Pai. Agora, plenificado por esse Espírito, derramou-o e derrama-o sobre a Igreja e sobre toda a criação.
"Jesus disse: “a Paz esteja convosco!” é o que eu desejo aos moradores do Edifício Canoas, que em grande numero estão aqui e que são testemunhas para nós de um milagre porque estão vivos, graças a Deus! São bem vindos a Igreja de São Conrado.

Aqui reunidos, rezaremos em agradecimento a Deus por todos os moradores de São Conrado, os que conhecemos e os que não conhecemos". 
Padre Marcos Belizário
(At 2,1-11) 
 Quando chegou o dia de Pentecostes, os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um barulho como se fosse uma forte ventania, que encheu a casa onde eles se encontravam. Então apareceram línguas como de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava.
Moravam em Jerusalém judeus devotos, de todas as nações do mundo. Quando ouviram o barulho, juntou-se a multidão, e todos ficaram confusos, pois cada um ouvia os discípulos falar em sua própria língua. Cheios de espanto e admiração, diziam: “Esses homens que estão falando não são todos galileus? Como é que nós os escutamos na nossa própria língua? Nós que somos partos, medos e elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egito e da parte da Líbia próxima de Cirene, também romanos que aqui residem; judeus e prosélitos, cretenses e árabes, todos nós os escutamos anunciarem as maravilhas de Deus na nossa própria língua!”
 (1Cor 12,3b-7.12-13)
 Irmãos: Ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor, a não ser no Espírito Santo. Há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito. Há diversidade de ministérios, mas um mesmo é o Senhor. Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum. Como o corpo é um, embora tenha muitos membros, e como todos os membros do corpo, embora sejam muitos, formam um só corpo, assim também acontece com Cristo. De fato, todos nós, judeus ou gregos, escravos ou livres, fomos batizados num único Espírito, para formarmos um único corpo, e todos nós bebemos de um único Espírito.

Homilia de Padre Marcos Belizário
Falar do “Espírito Santo” é falar do que podemos experimentar de Deus em nós.
 O “Espírito” de Deus atuando em nossa vida: a força, a luz, o alento, a paz, o consolo, o fogo que podemos experimentar em nós e cuja origem última está em Deus, fonte de toda vida.
Esta ação de Deus em nós se produz quase sempre de forma discreta, silenciosa e calada; o próprio crente só intui uma presença quase imperceptível. Às vezes, porém, nos invade a certeza, a alegria transbordante e a confiança total: Deus existe, nos ama, tudo é possível. Inclusive a vida eterna.
O sinal mais claro da ação do Espírito é a vida. 
 Deus está onde a vida é despertada e cresce, onde se comunica e expande a vida. O Espírito Santo é sempre “doador de vida”: dilata o coração, ressuscita o que está morto em nós, desperta o que dorme, põe em movimento o que ficou bloqueado. De Deus estamos sempre recebendo “nova energia para vida”.
Esta ação recriadora de Deus não se reduz somente a “experiências íntimas da alma”. Penetra em todos os estratos da pessoa. Desperta nossos sentidos , vivifica o corpo e reaviva nossa capacidade de amar. Para dizê-lo em poucas palavras, o Espírito conduz a pessoa a viver tudo de forma diferente: a partir de uma verdade mais profunda , a partir de uma confiança maior, a partir de um amor mais desinteressado.
Para muitos, a experiência fundamental é o amor de Deus e o dizem com uma frase bem simples: “Deus me ama”. Essa experiência lhes devolve sua dignidade indestrutível , dá-lhes força para levantar-se da humilhação ou de desalento, ajuda-os a encontrar-se com o melhor de si mesmos.
Outros não pronunciam a palavra “DEUS”, mas experimentam uma “confiança fundamental” que os faz amar a vida apesar de tudo , enfrentar os problemas com ânimo, buscar sempre o que é bom para todos. 
Ninguém vive privado do Espírito de Deus. Em todos Ele está atraindo nosso ser para a vida. Acolhemos o “Espírito Santo” quando acolhemos a vida. Esta é uma das mensagens mais básicas da festa cristã de Pentecostes.

Os abertos ao Espírito:
Não falam muito, nem se fazem notar. Sua presença é modesta e calada, mas são “sal da terra”. Enquanto houver no mundo essas mulheres e esses homens atentos ao Espírito de Deus , será possível continuar esperando. Eles são o melhor dom para uma Igreja ameaçada pela mediocridade espiritual.
Sua influência não provém do que fazem , nem do que falam ou escrevem, mas de uma realidade mais profunda . Encontram-se retirados nos mosteiros ou escondidos no meio da gente. Não se destacam por sua atividade e, não obstante, irradiam energia interior onde estão.
Não vivem de aparências. Sua vida nasce do mais profundo de seu ser. Vivem em harmonia consigo mesmos, atentos a fazer coincidir sua existência com o chamado do Espírito que os habita. Sem que eles mesmos se deem conta , são o reflexo do Mistério de Deus na terra.
Têm defeitos e limitações. Não estão imunizados contra o pecado. Mas não se deixam absorver pelos problemas e conflitos da vida. Voltam constantemente ao fundo de seu ser. Esforçam-se para viver na presença de Deus. Ele é o centro e a fonte que unifica seus desejos, palavras e decisões.
Basta colocar-se em contato com eles para tomar consciência da dispersão e agitação que há dentro de nós. Junto a eles é fácil perceber a falta de unidade interior , o vazio e a superficialidade de nossa vida. Eles nos fazem pressentir dimensões que desconhecemos.
Esses homens e mulheres abertos ao Espírito são fonte de luz e de vida. Sua influência é oculta e misteriosa. Estabelecem com os outros uma relação que nasce de Deus. Vivem em comunhão com pessoas que jamais viram. Amam com ternura e compaixão pessoas que não conhecem. Deus as faz viver em união profunda com a criação inteira.

No meio de uma sociedade materialista e superficial , que tanto desqualifica e maltrata os valores do espírito , quero trazer à memória esses homens e mulheres “espirituais”. Eles nos lembram o anseio maior do coração humano e a Fonte última onde se apaga toda sede.
(Jo 20,19-23)
Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: “A paz esteja convosco.” Depois dessas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor. Novamente, Jesus disse: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio.” E depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos.”

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sábado, maio 23, 2015

BEM-AVENTURADOS PADRE MANUEL GOMEZ GONZALEZ E COROINHA ADÍLIO DARONCH

 A IGREJA RECONHECE A VITÓRIA DO PADRE MANUEL E DO COROINHA ADÍLIO, PRESTANDO-LHES A HOMENAGEM DA GLÓRIA E RECONHECENDO A SUA PODEROSA INTERCESSÃO

No dia 21 de Maio a Igreja celebra o dia dos bem-aventurados Manuel Gonzáles e Adílio Daronch. Padre Manuel Gomes Gonzalez nasceu em 29 de Maio de 1877, em São José de Riberteme, Província de Fontevedra - Espanha. Foi ordenado sacerdote em 24 de Maio de 1902 em Tui. Em 1913, com grande espírito missionário e abertura de coração veio ao Brasil. Foi nomeado pároco da Igreja Nossa Senhora da Luz, em Nonoai, no Rio Grande do Sul. A 23 de Janeiro de 1914, recebia a paróquia de Nossa Senhora da Soledade. Em 7 de Dezembro de 1915, o bispo de Santa Maria - RS, Dom Miguel de Lima Valverde, nomeou Padre Manuel primeiro pároco da igreja Nossa Senhora da Luz, em Nonoai. Iniciando assim seu trabalho pastoral: organizou o Apostolado da Oração, a Catequese paroquial, o combate ao analfabetismo.
 Lutando com muitas dificuldades econômicas, reformou a igreja matriz. Na páscoa de 1924, Padre Manuel recebeu carta do Bispo de Santa Maria, pedindo que fosse ao Regimento do Alto Uruguai, fazer a páscoa dos Militares e depois fosse até a colônia Três Passos, para atender aos colonos de origem alemã, que estavam esperando missa, batizados e a bênção do cemitério. Padre Manuel convidou o seu coroinha Adílio Daronch que o acompanhasse num longo itinerário pastoral, a serviço da Paróquia de Palmeira das Missões. Adílio Daronch nasceu em Dona Francisca (RS), em 1908, filho de Pedro Daronch e Judite Segabinazzi, migrantes italianos vindo da Itália em 1883, com a família.
 Adílio era o terceiro filho do casal. Em 1912 a família foi morar em Passo Fundo, onde o pai aprendeu o ofício de fotógrafo. Alguns meses depois a família retorna para Nonoai onde exerce o ofício de fotógrafo e tinha uma pequena farmácia de homeopatia. A família de Pedro era muito religiosa. Eram grandes colaboradores do Padre Manuel. Adílio era coroinha e auxiliar nos serviços do altar e da paróquia. Nesta época o Rio Grande do Sul vivia momentos conturbados. O estado acabava de passar pela revolução entre chimangos e maragatos (Revolução de 1923), em que houve muita violência e derramamento de sangue. Padre Manuel e o coroinha Adílio Daronch dirigiram-se a cavalo, para o Alto Uruguai até a Colônia Militar, no Alto Uruguai, onde a 20 de Maio, Adílio ainda ajudou na Páscoa de militares. A caminho de Três Passos, ao chegar em "Feijão Miúdo" o coroinha Adílio e o padre Manuel foram surpreendidos por anticlericais e inimigos da religião. 
Foram levados para o mato, amarrados em árvores e fuzilados. Era o dia 21 de Maio de 1924. Os próprios colonos que encontraram os corpos amarrados em uma árvore os enterraram. Em cima da cruz da sepultura, escreveram: «mártires da fé, verdadeiros santos da Igreja, assassinados a 21 de Maio de 1924». Quarenta anos depois, em 1964, os restos mortais foram desenterrados e os ossos foram levados para Nonoai, numa caravana, pela Diocese. Em 1997, a Diocese encaminhou o processo de beatificação. 
Foram escritos vários livros sobre estes mártires. Em 2002, na Visita Ad Limina, ao receber um abaixo-assinado dos bispos do Rio Grande do Sul, o Cardeal português, José Saraiva Martins, responsável pelas beatificações, nos disse:
"Vocês precisam divulgar mais esta causa dos mártires. A Igreja não pode beatificar uns mártires que apenas são conhecidos no Alto Uruguai. Alto Uruguai, parece ser de outro país, é preciso que esta causa venha a interessar a todo o Rio Grande e todo o Brasil, além disso, Espanha (onde padre Manuel nasceu e foi ordenado padre) e Portugal (onde trabalhou por mais de 10 anos na Arquidiocese de Braga) precisam conhecer esta causa". Começou-se então um grande trabalho de divulgação. Falou-se diversas vezes a todos os Bispos do Brasil, em Itaici. Foram escritas cartas e e-mails aos bispos de Vigo (na Espanha) e Braga (em Portugal). Dia 21 de Outubro de 2007, foram beatificados, em Frederico Westphalen, os chamados mártires de Nonoai: o padre Manuel e o coroinha Adílio. 
A cerimônia foi presidida pelo cardeal José Saraiva Martins, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos que veio diretamente de Roma. Cerca de 40 mil fiéis estavam presentes à cerimônia. 

Em sua homilia, o cardeal Martins destacou: "santo é aquele que está de tal modo fascinado pela beleza de Deus e pela sua perfeita verdade que é por elas progressivamente transformado". Foi o que fizeram os dois novos bem-aventurados disse o cardeal. "Pela beleza e verdade de Cristo e do seu Evangelho, os dois novos bem-aventurados renunciaram a tudo, também a si próprios, também à sua própria vida, que é o maior tesouro que Deus nos deu". Hoje, a Igreja reconhece a vitória do padre Manuel e do coroinha Adílio, prestando-lhes a homenagem da glória e reconhecendo a sua poderosa intercessão. Hoje, pedimos a Deus que se digne realizar muitos milagres, que o Senhor em sua Bondade e Misericórdia, atenda aos pedidos de seu povo, concedendo-nos muitas graças pela intercessão destes dois bem-aventurados, padre Manuel e o jovem acólito Adílio. Mediante a intercessão destes mártires que viveram em terras brasileiras, e obtendo as graças que tanto necessitamos de Deus, o Senhor possa elevá-los à glória e honra dos altares!
"A devoção Mariana sempre ocupou espaço na vida do Beato, quando pároco continuou sua devoção a Nossa Senhora e inculcá-la aos fiéis. Ademais, na arquidiocese de Braga, onde ia com seus paroquianos para o Santuário do Sameiro, dedicado à Imaculada Conceição de Maria. Beato Manuel nunca esqueceu a devoção a Nossa Senhora. Procurou incentivá-la entre os fiéis. Sendo padroeira da paróquia de Nonoai Nossa Senhora da Luz, impeliu e promoveu ainda mais a devoção mariana.
Nossa Senhora teve uma especial predileção pelo Beato Manuel, pois no mês de maio, o mês de Maria, lhe marcou a vida.
Em maio ele nasceu, em maio foi ordenado sacerdote, em maio foi coroado com a palma do martírio. Após a sua morte foi encontrado, no bolso da sotaina, o rosário, que ele rezava durante suas viagens pastorais".
(Mons. Arlindo Rubert, 2005)

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SANTA RITA DE CÁSSIA - "SANTA DAS CAUSAS IMPOSSÍVEIS"


Uma das santas mais amadas da cristandade, a amável e amada Santa Rita de Cássia. É peculiar o fato de ela ser venerada e amada pelo povo humilde muito tempo antes de sua canonização. Em sua biografia, por conta disso, os dados históricos misturam-se muito com a lenda, que só cresceu desde o seu falecimento, e espalhou-se a partir do local que foi sua residência por 40 anos: o Convento Agostiniano de Santa Maria Madalena, em Cássia (Itália). É tênue o limite entre o que é real ou lendário na vida dessa santa.

RITA DE CÁSSIA – SOFRIMENTO, PACIÊNCIA
 E SANTIDADE
Tanto é que o primeiro documento que se refere a Santa Rita não é um pergaminho ou papel, mas sim a urna funerária – a “Caixa Solene ” (foto abaixo) – que guardou o seu corpo e que tem gravada junto a uma imagem dela um breve epitáfio, em italiano, do século XV.
 Coube ao agostiniano Cavalluci de Foligno, em 1610, a primeira biografia de Santa Rita. Cavalluci deu-se ao trabalho de reunir toda a tradição oral a respeito da santa, e seu trabalho serviu de base para a beatificação dela, em 1628.

Nascida no vilarejo de Roccaporena, próximo à Cássia, na Úmbria, em meados do século XIV, sua história é uma das mais maravilhosas e encantadoras do campo da hagiografia. Creio que a grande devoção a esta santa deva-se, em parte, ao fato de que sua vida é uma vida dramática e recheada de problemas que afligem a gente comum, daí a identificação.
Seus pais eram Antonio Lotti e Amara Ferri, gente humilde, camponeses. Por sua habilidade em resolver conflitos, serviam à comunidade como conselheiros e mediadores em casos de conflito. Devotos ao extremo, eram conhecidos na região de Roccaporena como “os pacificadores de Cristo”.  Antônio e Amara não tiveram filhos na juventude. Deus ouviu as preces do casal de idosos e, tal como ocorreu com Santa Ana e Santa Isabel, os bons velhinhos teriam seu herdeiro – no caso, herdeira.
Durante sua gravidez, Amara teve um sonho. Um anjo lhe disse que a criança seria amada tanto por Deus quanto pelos homens, por todas as suas admiráveis virtudes. O anjo também falou que a criança deveria chamar-se Margarita. Santa Rita foi batizada na Igreja de Santa Maria da Plebe, em Cássia, pois em Roccaporena não havia pia batismal. Eis o detalhes meus amigos, uma das santas mais amadas pelos católicos do mundo inteiro é conhecida pelo seu apelido “Rita”, uma abreviação carinhosa do Marga”Rita” (em italiano se escreve com “T” mesmo).

O MILAGRE DAS ABELHAS
Poucos dias depois do seu batizado, Santa Rita foi levada pelos pais para a roça, dentro de um cesto. Colocaram a criança num tronco e foram cortar lenha. Um enxame de abelhas surgiu e envolveu o cesto onde estava a pequena Margarita. Nenhuma abelha a picou. Entravam e saiam de sua boca para depositar mel em sua língua.
Naquela ocasião, um ceifador ferido durante o trabalho se dirigia à cidade de Cássia para procurar ajuda; ao passar por aquele campo e ver as abelhas ao redor do cesto da criança, quis espantá-las, usando a mão ferida. Nesse momento, sua ferida cicatrizou: ele estava curado.
Santa Rita teve três santos protetores: São João Batista, Santo Agostinho e São Nicolau de Tolentino (não confundir com São Nicolau “Papai Noel”). Sua ligação com São João e São Nicolau diz respeito ao fato de que ambos eram filhos de pais idosos, assim como ela. Com relação a Santo Agostinho, Santa Rita tinha o desejo de dedicar sua vida a Deus, seguindo os preceitos da Ordem dos Agostinianos.

O MATRIMÔNIO SOFRIDO
Mas seus pais estavam temerosos com o futuro de Margarita. Por causa da idade avançada de ambos, apressaram um casamento da menina que, aos quinze anos, foi entregue em matrimônio a Fernando Mancini. Intragável, desagradável e violento, o sujeito tornou-se um martírio para sua esposa; era dado a jogos e espancava Santa Rita.
O casal teve dois filhos: João Santiago e Paulo Maria. Foram 18 anos de sofrimento e dor, suavizados com preces ao Senhor Nosso Deus. Rita vivia para família e para caridade. Jejuava muito e, por fim, seus esforços valeram a pena: seu irascível marido abrandou o coração. Mas, infelizmente, os anos de fúria de Fernando cobraram seu preço. Tento feito muitos inimigos, ele foi assassinado numa emboscada perto de sua casa, em 1413.  Caiu, provavelmente, por conta das lutas internas que assolavam a Úmbria, entre guelfos e gibelinos.

Depois de prantear seu marido e perdoar seus assassinos, ergue-se para Rita um novo desafio: tirar dos filhos o desejo de vingança. Ao que parece, não adiantou. O coração violento dos garotos era como o do pai. A devota mãe temia por suas almas, que seriam condenadas se seguissem pelo caminho da Vendetta. Santa Rita pedia que o Senhor os impedisse de cometer tão grande pecado. Antes de poderem executar qualquer plano louco de vingança contra os assassinos do pai, ambos foram levados do mundo pela peste negra.

A ENTRADA NO CONVENTO
Santa Rita se viu só no mundo. Por outro lado, lhe finalmente poderia seguir com sua vocação religiosa. Pediu para ingressar no Convento Agostiniano de Santa Maria Madalena, mas teve seu pedido negado. A razão alegada pela madre superiora era o fato de Margarita não ser mais virgem. Não colava, o convento tinha outras irmãs que eram viúvas. A verdadeira razão da recusa, para alguns biógrafos, era o fato de Santa Rita ser viúva de um assassinado.
Mas a vida não se tornou mais fácil por conta disso. Todos os dias, a abadessa mandava Rita regar uma videira seca, para testar sua obediência. Rita cumpria a tarefa com esmero, sem se importar com o fato da videira estar morta. Só que a videira frutificou e, mais incrível ainda, frutifica até os dias de hoje.

O ESTIGMA
Rita levava uma vida austera. Jejuava todos os dias e se mantinha a pão e água. Usava um cilício espinhoso sob as vestes. Durante um sermão de um religioso franciscano sobre a Paixão, surge em Rita um estigma: um espinho da coroa de Cristo crava-se em sua fronte. Tão profunda e amorosa foi a contemplação da santa sobre os sofrimentos de Cristo, que acabou por ganhar a honra de participar de Suas dores.
Esse estigma acompanhou Rita durante seus últimos 15 anos. O odor terrível da ferida fez com que Santa Rita se isolasse dentro da sua cela, para não ofender as demais irmãs. Somente por conta de uma viagem a Roma o estigma cicatrizou, permitindo que a santa viajasse com suas irmãs. Ao retornar, o estigma reapareceu.

PARTIDA PARA O CÉU
Os últimos quatro anos da vida de Santa Rita foram de prece e mortificação. Vivia acamada. Ela teve uma visão de Jesus Cristo e de Nossa Senhora, que lhe revelaram que, me breve, o estigma da coroa de espinhos seria trocado por uma coroa de glória. As últimas palavras da santa foram: “PERMANEÇAM NO SANTO AMOR DE JESUS. PERMANEÇAM NA OBEDIÊNCIA DA SANTA IGREJA CATÓLICA ROMANA. PERMANEÇAM NA PAZ E NA CARIDADE ETERNA”.

Pouco depois, recebeu os sacramentos e partiu para o convívio dos santos. Era o dia 22 de maio de 1457, tinha 76 anos. O sofrimento acabara. Os sinos do convento tocaram sozinhos, o rosto de Rita recuperou a beleza depois de muitos anos de mortificação. O estigma desapareceu, o ar encheu-se de perfume celestial e uma luz divina invadiu a cela onde jaziam seus restos mortais.
Costuma-se dizer que seu corpo está incorrupto, mas não é bem assim. O corpo, é bem verdade, permaneceu perfeitamente preservado por mais de 300 anos, milagrosamente. Em 1626, durante o processo de investigação para a causa da beatificação, os juízes verificaram que o corpo de Santa Rita estava inteiro e intacto, e sua pele estava branca e fresca. Além disso, exalava um odor suave; investigando o corpo, não encontraram nele qualquer artifício para exalar perfume ou sinal de embalsamamento.

Porém, em 1798, deu-se um episódio lamentável: a Itália foi invadida pelas tropas francesas, e as monjas do convento de Santa Rita fugiram em desespero. Na pressa, não puderam ajeitar o corpo da santa com o devido preparo. O zelo das irmãs evitou que a preciosa relíquia fosse roubada ou destruída pelos soldados de Napoleão, mas não impediu que fosse gravemente danificada pelas sacudidelas da estrada. As fibras do tronco se deterioraram; os braços, as pernas e o rosto conservaram as linhas normais, porém, a pele ficou enegrecida, mumificada.
Ainda hoje é possível contemplar seu corpo na Igreja do Convento de Cássia, dentro de uma urna de cristal.

ORAÇÃO
Ó poderosa e gloriosa Santa Rita chamada Santa das causas impossíveis, advogada dos casos desesperados, auxiliadora da última hora, refúgio e abrigo da dor que arrasta para o abismo do pecado e da desesperança, com toda a confiança em Vosso poder junto ao Coração Sagrado de Jesus, a Vós recorro no caso difícil e imprevisto, que dolorosamente oprime o meu coração. (Faça seu pedido).
Obtenha a graça que desejo, pois sendo-me necessária, eu a quero. Apresentada por Vós a minha oração, o meu pedido, por Vós que sois tão amada por Deus, certamente será atendido. Dizei a Nosso Senhor que me valerei da graça para melhorar a minha vida e os meus costumes e para cantar na Terra e no Céu a Divina Misericórdia.
Santa Rita das causas impossíveis, intercedei por nós! Amém.

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