quinta-feira, março 31, 2016

ALGO EXTRAORDINÁRIO, POR DOM FERNANDO RIFAN


A Páscoa, maior festa religiosa do calendário cristão, é a celebração da gloriosa Ressurreição de Jesus Cristo, a sua vitória sobre o pecado, sobre a morte e sobre a aparente derrota da Cruz. Cristo ressuscitou glorioso e triunfante para nunca mais morrer, dando-nos o penhor da nossa vitória e da nossa ressurreição. Choramos a sua Paixão e nos alegramos com a vitória da sua Ressurreição. Para se chegar a ela, para vencer com ele, aprendemos que é preciso sofrer com ele: “Quem quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16,24). “Que por sua Paixão e Cruz cheguemos à glória da Ressurreição!”. A morte não é o fim. O Calvário não foi o fim. Foi o começo de uma redenção, de uma nova vida. A Páscoa é, portanto, a festa da alegria e a da esperança na vitória futura.

Como figura, esta festa já existia no Antigo Testamento. Era a celebração da libertação da escravidão do Egito, na qual sofreram os israelitas, povo de Deus, por muitas gerações, sendo libertados por Moisés que, por ordem do Senhor, fulminou os egípcios com as célebres dez pragas. Na última dessas pragas, na passagem do anjo de Deus (Páscoa quer dizer passagem, em hebraico), os egípcios foram castigados com a morte dos seus primogênitos, ao passo que os hebreus foram poupados por causa do sangue do cordeiro que imolaram, conforme o Senhor havia prescrito. Todos os anos, em ação de graças, eles repetiam, por ordem de Deus, essa ceia de Páscoa: milhares de cordeiros eram imolados na sexta-feira antes da Páscoa.

Assim o cordeiro ficou sendo por excelência a vítima do sacrifício. São João Batista, ao apresentar Jesus ao povo, disse: “Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo!” Esse Cordeiro de Deus, numa sexta-feira antes da Páscoa foi também imolado, realizando, com o seu sangue, a libertação do mundo do pecado, ressuscitando no terceiro dia. Essa é a nossa festa da Páscoa, a festa da Ressurreição de Cristo, o verdadeiro Cordeiro de Deus, o fim do Antigo Testamento e o começo da nova Aliança entre Deus e os homens, o início da Igreja.

“Se se considera a importância que tem o sábado na tradição do Antigo Testamento, baseada no relato da criação e no Decálogo, torna-se evidente que só um acontecimento com uma força extraordinária poderia provocar a renúncia ao sábado e sua substituição pelo primeiro dia da semana. Só um acontecimento que se tivesse gravado nas almas com uma força fora do comum poderia haver suscitado uma mudança tão crucial na cultura religiosa da semana. Para isso não teriam bastado as meras especulações teológicas. Para mim, a celebração do Dia do Senhor, que distingue a comunidade cristã desde o princípio, é uma das provas mais fortes de que aconteceu uma coisa extraordinária nesse dia: o descobrimento do sepulcro vazio e o encontro com o Senhor Ressuscitado” (Bento XVI – Jesus de Nazaré II).

Feliz e Santa Páscoa para todos: que todos fiquemos alegres com a esperança que Jesus Cristo nos dá com o seu triunfo, penhor da nossa vitória um dia no Céu, onde todos esperamos nos encontrar.


*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney


segunda-feira, março 28, 2016

DOMINGO DE PÁSCOA



A iluminação que vem da vida e para a vida busca inspiração na sequência pascal, onde se canta: “duelam forte e mais forte: é a vida que enfrenta a morte”. A Páscoa, celebrando a Ressurreição de Jesus, como sabemos, proclama a vitória da vida sobre a morte. A vitória desta realidade mais terrível de todos nós, a mais temível verdade que carregamos conosco, de que iremos morrer. De outro lado, a Páscoa de Jesus Cristo é a certeza que Deus entrou, uma vez por todas, no reino da morte (“desceu à mansão dos mortos”, proclamamos no Credo), por isso, nenhuma derrota da vida será, de agora em diante, definitiva. Quer dizer: toda e qualquer vida, grande ou pequena, sublime ou mesquinha, confiante ou cética, pode mergulhar num grande e infinito lago de esperança para viver plena e eternamente.




A Páscoa não é uma simples lembrança da Ressurreição de Jesus. A Páscoa é memorial, e isto significa que se trata de uma vivificação, oferecendo a possibilidade de cada um participar da mesma experiência pascal, pela qual passaram os Apóstolos, as mulheres que foram ao sepulcro e os discípulos e discípulas de Jesus. Sendo memorial, cada celebrante (e todo cristão, de modo geral) é convocado a participar desta experiência fundante de abandonar as ameaças da morte e se propor a viver com a força do amor misericordioso de Deus em nossas vidas.







Acima de tudo, a Páscoa significa fazer experiência de ser salvo por Deus. O verbo “salvar” (em hebraico yasha) passa a idéia de um espaço apertado e opressor, para um espaço amplo e aberto; um espaço onde se pode respirar livremente. Locais apertados, no qual entramos em tantas situações da vida, provoca angustia e tormento no coração humano. É um espaço ocupado por forças adversas à vida, que se torna ainda mais apavorador quando existe uma ameaça concreta de morte por fechar todas as portas para a esperança. Por isso, salvar significa abrir espaços de vida, libertar quem vive oprimido, oferecer um local onde é possível mergulhar na esperança. E isto é feito com a força do amor misericordioso de Deus.

No contexto do Ano Santo da Misericórdia, a Páscoa evoca a libertação divina para que a vida seja plena. Deus não apenas se compadece emocionalmente da situação oprimente, na qual vive o ser humano, mas, como é próprio da atitude misericordiosa divina, assume um empenho concreto para libertar a vida humana de situações opressoras através da Cruz de Jesus Cristo. Quem acredita na força do amor, entende a força libertadora da Páscoa e pode desejar sinceramente a todos que encontrar votos de Feliz Páscoa.


É justamente porque estamos livres de todas as ameaças de morte, graças a Ressurreição de Jesus, que temos um compromisso com a vida. O compromisso de anunciar a Ressurreição de Jesus, como ouvimos Pedro fazendo, na 1ª leitura, e como escutamos do relato evangélico, das mulheres anunciando a Ressurreição do Senhor. Aquele discípulo e aquela discípula que amam, dizia o Evangelho, são capazes de perceber a ação misericordiosa de Deus agindo em favor de nossas vidas. Só quem ama tem a força de ver a luz da Ressurreição divina até mesmo dentro de um túmulo vazio. É este compromisso de testemunhar amorosamente ou, se quisermos, misericordiosamente, a vida nova que nasce da Ressurreição de Jesus que precisa ser transformada em fermento para levedar a vida humana em todas as esferas sociais, familiares e comunitárias, como diz Paulo. Se ressuscitamos com Cristo, (diz Paulo), busquemos as coisas do alto, que tem cheiro de vida, de liberdade, e não aquelas da terra, quase sempre contaminadas com o vírus da morte. Por isso, com esta minha reflexão, renovo uma vez mais os votos de Feliz Páscoa lembrando que estamos comprometidos com a plenitude da vida que é derramada na Ressurreição de Jesus. Amém. Aleluia!


PAPA NA VIGÍLIA PASCAL



26 de março, Vigília Pascal presidida pelo Papa Francisco que na sua homilia afirmou que esperança não é mero otimismo mas um dom de Deus para sairmos de nós mesmos e abrirmo-nos a Ele.

Vigília das vigílias na noite de Sábado Santo. Na Basílica de S. Pedro o lume novo abre o caminho da liberdade para o povo de Deus sair da escravidão do pecado. Na celebração foram batizados 12 catecúmenos vindos da Itália, Albânia, Camarões, Coreia do Sul, Índia e China.

Na sua homilia o Papa Francisco começou por lembrar Pedro que “correu ao sepulcro”. No coração dele “reinava a dúvida”. Mas há um pormenor importante – disse o Santo Padre – “depois que ouvira as mulheres sem ter acreditado nelas, Pedro “pôs-se a caminho”. Ele preferiu a “via do encontro e da confiança” – afirmou o Papa.

Também as mulheres “saíram de manhã cedo para fazer uma obra de misericórdia, ou seja, levar os perfumes ao sepulcro” e ouviram estas palavras do anjo: ”Porque buscais entre os mortos Aquele que está vivo?”

Também nós não podemos permanecer tristes e sem esperança – disse o Papa – devemos fazer rolar a “falta de esperança” porque o Senhor livra-nos de uma “terrível armadilha: sermos cristãos sem esperança, que vivem como se o Senhor não tivesse ressuscitado e o centro da vida fossem os nossos problemas”. A esperança não é mero otimismo – disse o Papa.

“A esperança cristã é um dom que Deus nos concede, se sairmos de nós mesmos e nos abrirmos a Ele” – afirmou.

“Esta esperança não dececiona porque o Espírito Santo foi infundido nos nossos corações” – disse o Santo Padre – e o “Senhor está vivo e quer ser procurado entre os vivos”.

“Somos chamados a anunciar o Ressuscitado com a vida e através do amor” – declarou Francisco exortando os cristãos a não esquecerem a Palavra de Deus e as suas obras para não perderem a esperança. Verdadeiras “sentinelas da manhã que sabem vislumbrar os sinais do Ressuscitado” que “orienta os nossos passos na confiança, rumo à Páscoa que não terá fim”.

sábado, março 26, 2016

VIGÍLIA DA PÁSCOA DE JESUS



Confiar porque Deus venceu a morte

Feliz Páscoa a cada um e a toda a nossa comunidade. Hoje, celebramos a Ressurreição de Jesus, celebramos a vitória a vida sobre a morte, celebramos a manifestação da misericórdia divina oferecendo-nos a vida em plenitude, graças a Ressurreição do Senhor. Nestes dias, contemplamos e celebramos como Jesus passa por um sofrimento insuportável porque precisava mostrar a nós, humanidade medrosa diante da dor, que a força e a soberania divina se revelam principalmente através do perdão misericordioso, do perdão que re-genera a vida, que gera a vida de um modo novo. Em Jesus, esta expressão misericordiosa da regeneração da vida acontece na Ressurreição. A Ressurreição é a demonstração viva e palpável que o perdão misericordioso de Deus é maior que a ameaça da morte. A misericórdia, em Deus e na naqueles que se tornam misericordiosos, sempre é regeneradora, promotora de vida nova, porque sempre promove a Ressurreição da vida, mesmo quando esta se mostra contaminada por vírus mortais, como a raiva, a mágoa, o ódio.



Celebração da fogo
(da luz)



































Com misericórdia eterna

Regenerar a vida, fazer com que a vida volte a ser nova e renovada. Eis o resultado da Ressurreição de Jesus Cristo na vida de cada um de nós. É assim que ouvimos na profecia de Isaias, na 4ª leitura desta solene Vigília Pascal. Na profecia de Isaias (Is 54,5-14), compreendemos a Ressurreição como o olhar misericordioso de Deus diante das mazelas sofridas pelo povo. Um olhar de tamanha misericórdia, que Deus jura nunca mais irritar-se contra nós e nunca mais dirigir-nos ameaças de destruição. A realidade deste juramento encontra-se na Ressurreição de Jesus, na vitória da vida sobre a morte, justamente sobre esta morte que tanto ameaça nossa vida humana. Pelo seu juramento, Deus garante que sempre terá compaixão misericordiosa para conosco e, como fruto de sua misericórdia infinita, fará um povo novo, fará uma Igreja nova construída sobre pedras preciosas e com muros fortificados e, o mais importante, terá a justiça como fundamento, estabelecendo assim a realização fraterna na terra.


Celebração da Palavra























Relacionamentos fraternos e coração novo

O novo relacionamento, profetizado por Isaias como resultado da misericórdia divina derramada na vida humana, necessita de corações acolhedores, capazes de serem misericordiosos como Deus é misericordioso. É o que ouvimos na 7ª leitura, na bela profecia de Ezequiel, prometendo a regeneração não somente pessoal, mas de todo o povo. É a promessa de uma água pura, símbolo do Espírito Santo, para que os relacionamentos sejam iluminados pelo Espírito divino e não por interesses de lucro ou de outras cumplicidades. É a promessa de um coração novo, não aquele coração de pedra, incapaz de se compadecer e, muito menos, de ser misericordioso com o outro, mas um coração de carne. Quer dizer, um coração que seja totalmente humano, pois quem tiver um coração humano não tratará o outro como inimigo ou desafeto, mas de modo fraterno. A promessa de que um espírito novo em nós, para que pudéssemos ser misericordiosos como o Pai é misericordioso acontece com a Ressurreição de Jesus.


Rito da iniciação de adultos


































Ressuscitar a misericórdia em nosso meio

Hoje, quando solenemente celebramos a Ressurreição de Jesus Cristo, nosso Mestre e Senhor, no contexto do Ano Santo da Misericórdia, somos convidados a nos comprometer com a renovação da vida através de atitudes misericordiosas. Como tantas vezes refletimos no decorrer da Quaresma, não somente ter pena, ter compaixão de quem vive nas misérias da vida, mas assumir uma atitude capaz de falar com palavras e com gestos aquilo que os anjos disseram às mulheres: não se pode procurar Jesus entre os mortos, pois ele ressuscitou. Ter atitudes misericordiosas é assumir um compromisso para resgatar da miséria quem vive o sofrimento de estar ameaçado pela morte. A Ressurreição de Jesus não é uma lembrança que renovamos todos os anos, mas um compromisso com a vida nova para todos, esta sim, que renovamos todos os anos e, mais que isso, que renovamos em cada Eucaristia. Renovar o compromisso com a vida é um gesto misericordioso, como ouvimos nesta longa Liturgia da Palavra. Renovar a vida foi o “trabalho” deste nosso Deus misericordioso, resgatando da morte a vida do seu povo. Renovar a vida com as luzes da Ressurreição é um gesto e uma atitude misericordiosa. Feliz Páscoa, muita ressurreição na sua vida, pois assim a misericórdia iluminará a sua vida em todos os momentos de sua existência. Amém! Aleluia!