sexta-feira, julho 01, 2016

CENTENÁRIO DA PRIMEIRA MISSA






Nos últimos três ou quatro séculos, de forma bastante unilateral, acentuou-se o fato de que o próprio Deus está presente na hóstia consagrada. É algo, sem dúvida, importante e grande, e por isso, compreensível que toda atenção estivesse concentrada neste ponto. Mas, no entanto, isto não é o decisivo neste sacramento, e sobretudo, não é aquilo que Cristo queria, na verdade, com sua instituição.

O resultado da compreensão da Eucaristia, no passado, tinha sido, sobretudo, de que a Eucaristia era entendida como um sacramento para a adoração: Deus está presente, portanto, é preciso adorá-lo. O ostensório foi enriquecido cada vez mais (ele só existiu a partir do final da Idade Média), o tabernáculo tornou-se sempre mais majestoso, cobrindo quase toda a mesa do altar. Nasceram procissões e orações para a adoração eucarística. Mas, acima de tudo, quase não se ousava mais comungar.





Deus pode ser adorado: mas é possível também recebê-lo? Quem poderia ainda ousar a fazê-lo? Receber a comunhão tornou-se uma ocorrência rara, e já no dia seguinte não se ousava fazê-la novamente. Na consciência comum foi ficando impresso firmemente que a cada vez, antes de receber a comunhão, era necessário confessar-se. Se, pois, (muito raramente) se ousava comungar, o sentido desse ato foi compreendido principalmente como ato de adoração: Deus estava presente e era necessário glorificar sua grandeza.

Neste tipo de piedade havia, sem dúvida, muita coisa boa e sincera da qual hoje precisaríamos recuperar um pouco; talvez, hoje, tenhamos pouco temor e, às vezes, vamos à mesa do Senhor de maneira bastante superficial. Este conjunto de coisas, porém, não corresponde exatamente ao sentido originário do sacramento. O real significado deste sacramento pode-se muito bem reconhecer no sinal que Cristo escolheu. Nele sua presença é escondida atrás da figura do pão. Podemos nos perguntar simplesmente: o que é o pão na vida cotidiana? A resposta é fácil: é alimento.





Portanto, não é algo para olhar, mas para comer. Se o Senhor liga sua presença à figura do pão, o sentido de tal processo é absolutamente claro: também este pão santo, em primeiro lugar, não foi feito para ser contemplado, mas para ser comido. Isso significa que ele não permaneceu para ser adorado, mas acima de tudo para ser recebido. Mais do que dos tabernáculos de pedra, interessam-lhe os tabernáculos vivos, ter os homens cheios do seu Espírito, prontos em tornar presente o Espírito e a realidade de Jesus Cristo neste mundo.

Por sua natureza, portanto, a Eucaristia é uma realidade que deve ser recebida, é uma exortação para nos impregnar e preencher do espírito de Cristo, para erigir assim os tabernáculos de Deus lá onde realmente são necessários: no meio do mundo em que vivemos, entre os homens que estão ao nosso redor. Por esta razão, a mesa do altar, a refeição, é maior do que o tabernáculo, porque Cristo nos chama a sermos seus tabernáculos neste mundo, a termos a coragem do seu Espírito, o Espírito da verdade, de retidão, de justiça e de bondade.




A Eucaristia culmina na comunhão, quer ser recebida. Se refletirmos um pouco, aparecerá outro elemento. O que realmente acontece na Sagrada Comunhão? Todos comungantes comem de um e mesmo pão, Cristo, o Senhor. Eles comem na mesma mesa de Deus, em que não há diferença, em que empregador e empregado, alemão e francês, douto e ignorante, todos têm o mesmo valor.