terça-feira, agosto 16, 2016

SEMANA NACIONAL DA FAMÍLIA


Neste ano, há motivações especiais para celebrar a Semana Nacional da Família, dentro mês vocacional de agosto: temos os ricos ensinamentos exortações pastorais do Papa Francisco, na Exortação Apostólica pós-sinodal Amoris Laetitia, sobre a alegria do amor no matrimônio e na família. Este também é o tema do curso anual do clero da Arquidiocese de São Paulo, em Itaici.

Para muitos, o casamento e a família “tradicionais” já foram superados e substituídos por diversas formas de união, que pretendem ter reconhecimento igual ao que sempre foi tido como casamento e família. Para outros, a família é como um barco à deriva e já não vale a pena dedicar-lhe esforços, para tentar salvá-la. Será assim mesmo?

Por que o Papa Francisco exorta a Igreja e a sociedade a dedicarem uma renovada atenção ao casamento e à família?  O motivo é simples e profundo, ao mesmo tempo: a família é um bem para a pessoa, a comunidade humana e para a própria Igreja. Casamento e família, embora sejam expressadas em diversas formas culturais, não são meros produtos da cultura, mas são parte integrante da natureza humana e, portanto, parte do desígnio de Deus Criador. Por isso, se “Deus viu que era bom, muito bom” (cf Gn 1,31), a Igreja, como anunciadora e testemunha daquilo que se refere a Deus, não pode deixar de se interessar pelo casamento e a família.

No entanto, a atenção à família e ao casamento é complexa, uma vez que se trata de realidades profundamente ligadas às contingências humanas, históricas e culturais. É preciso anunciar o ensinamento da Igreja, mas também é necessário confrontar-se com as realidades que temos diante de nós, e que não correspondem sempre ao ideal que anunciamos. Foi por isso que o Papa convocou uma assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos (2014) para refletir sobre a situação atual do casamento e da família no mundo e sobre os desafios que daí decorrem para a missão evangelizadora da Igreja.

Seguiu-se a Assembleia ordinária do Sínodo, em 2015, para refletir sobre a vocação e a missão da família no contexto atual da Igreja e da sociedade; as reflexões foram assimiladas pelo Papa e traduzidas na Exortação Apostólica Amoris Laetitia, sobre a alegria do amor no casamento e na família. Uma afirmação de Francisco permite-nos perceber logo por que a Igreja continua a acreditar que é importante e vale a pena tratar do assunto: “as famílias não são um problema; elas são, sobretudo, uma oportunidade” (nº 7). Aonde quer chegar o Papa com as exortações dadas?

Penso que o Documento aponta para novas posturas e novas práticas em relação ao casamento e à família. O Papa não fez mudanças doutrinas no ensino da Igreja sobre casamento e família. Mas, isso sim, insiste sobre novas práticas evangelizadoras e pastorais, que vão desde a melhor compreensão e o renovado anúncio do “Evangelho do casamento e da família” na Sagrada Escritura e no Magistério da Igreja, passando por uma atenção carinhosa aos jovens que se preparam ao casamento, pelo acompanhamento dos casais e das famílias novas, por uma atenção especial e misericordiosa em relação aos casais e famílias que crises e angústias.

Mas as novas práticas pastorais também passam por novas práticas canônicas quanto à verificação da validade dos casamentos e da possibilidade de realizar um casamento válido diante da Igreja. Enfim, fazendo eco às manifestações das duas assembleias sinodais, o Papa Francisco exorta a Igreja toda a ser acolhedora e misericordiosa em relação a todas as famílias, mesmo quando não é possível “regularizar” as situações contrastantes com o ensino da Igreja; ninguém deve encontrar fechadas as portas da Igreja, mesmo quando não dá para atender ao que as pessoas pedem. O Papa lembra que a Igreja não condena ninguém antecipadamente, mas aponta a todos o caminho da misericórdia e da conversão; a todos indica as riquezas inesgotáveis do Evangelho da salvação e convida a caminhar por elas.

Em poucas palavras, eu diria que Francisco nos tira da “zona de conforto” e nos leva a rever atitudes eclesiais e práticas pastorais em relação ao casamento e à família. Aqui também se aplica o conceito de “conversão pastoral”, que ele usou na Exortação Apostólica “Evangelli Gaudium (A Alegria do Evangelho”, 2014). A caridade pastoral e o desejo de fazer chegar a todos a Boa Nova da salvação ajudarão a realizar as mudanças necessárias.