terça-feira, setembro 13, 2016

XXIV DOMINGO DO TEMPO COMUM



 Primeira Carta de São Paulo a Timóteo Caríssimo: Agradeço àquele que me deu força, Cristo Jesus, nosso Senhor, pela confiança que teve em mim ao designar-me para o seu serviço, a mim, que antes blasfemava, perseguia e insultava. Mas encontrei misericórdia, porque agia com a ignorância de quem não tem fé. Transbordou a graça de nosso Senhor com a fé e o amor que há em Cristo Jesus. Segura e digna de ser acolhida por todos é esta palavra: Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores. E eu sou o primeiro deles! Por isso encontrei misericórdia, para que em mim, como primeiro, Cristo Jesus demonstrasse toda a grandeza de seu coração; ele fez de mim um modelo de todos os que crerem nele para alcançar a vida eterna. Ao Rei dos séculos, ao único Deus, imortal e invisível, honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém! 

É muito comum ouvirmos apelos à conversão. Hoje, o apelo para converter-se não é feito a nós, seres humanos, mas ao próprio Deus. Moisés dirige sua prece a Deus para que se converta em vista de salvar o seu povo (1ª leitura). Na lógica humana, se o povo distanciou-se de Deus, é justo que Deus se distancie e deixe o povo morrer em sua idolatria. Mas, os apelos de Moisés fazem memória da salvação divina em favor do povo, do qual ele também faz parte. Intercede para que Deus converta-se de justiceiro em misericordioso. Neste sentido, Moisés age como verdadeiro mediador entre Deus e o povo para salvar o povo. Moisés não foge; conserva-se junto do povo qual bom pastor que protege seu rebanho nos momentos conflitantes. Assim, Moisés apela à fidelidade do próprio Deus, selada em aliança, apesar da infidelidade do povo; infidelidade que o próprio Deus conhecia muito bem, diga-se de passagem.




Moisés eleva uma prece, que podemos denominá-la como “memorial”, lembrando ao próprio Deus, que ele se caracteriza não pelo castigo que mata, mas pela misericórdia que refaz a vida, oferecendo novos caminhos e novas oportunidades de regeneração (1ª leitura). É diante deste Deus misericordioso, sempre pronto a perdoar, que o salmista convidará os celebrantes — no contexto deste Ano santo da Misericórdia — a purificar seus próprios corações nas fontes da misericórdia divina (salmo responsorial).

Não se trata de uma purificação unicamente sentimental, como o termo coração poderia supor a alguém menos atento. Trata-se de purificar também a mentalidade que cada um de nós tem de Deus. Lucas, na perícope evangélica deste Domingo, põe acento em três aspectos importantes para se compreender a dinâmica da misericórdia divina: o acolhimento dos pecadores, o binômio perdido-encontrado e, a imagem de Deus (Evangelho). Paulo considera-se entre os que foram acolhidos depois de uma vida perdida no pecado e na perseguição da Igreja, repetindo duas vezes na carta a Timóteo que encontrou misericórdia da parte de Deus (2ª leitura). Acolher os que se distanciaram da comunidade e do próprio Deus é uma atitude misericordiosa. Por isso, o acolhimento dos que voltam para a comunidade é um gesto da misericórdia do Pai bondoso e não do filho mais velho, que se afasta quem partiu da comunidade (Evangelho).

O segundo elemento do Evangelho está no binômio perdido-encontrado, presente nas três parábolas: da ovelha perdia e encontrada, da moeda perdida e encontrada e do filho que se perdera e foi encontrado. A consequência do encontro é a alegria: “assim haverá mais alegria no céu”, repete Jesus (Evangelho). A misericórdia, deste modo, torna-se fonte da alegria espiritual por reencontrar aquilo que amava.





Para concluir, o terceiro elemento presente nas parábolas: a imagem de Deus. Cada época histórica tem uma imagem de Deus. Se lermos a história do cristianismo temos oportunidade de encontrar diferentes imagens de Deus. As leituras, veladamente, passam uma imagem justiceira de Deus. que se serve da justiça retributiva: se o povo pecou com a idolatria deverá ser abandonado em seu pecado (1ª leitura). Se o filho mais jovem gastou a vida em caminhos do pecado, não pode ser acolhido em casa, diz o filho mais velho (Evangelho). Jesus, ao contrário, propõe uma imagem totalmente diferente: Deus é um Pai misericordioso, que não quer a morte de seus filhos, mas que vivam. Por isso, misericordiosamente os acolhe em sua casa e com eles festeja a vida.