segunda-feira, setembro 19, 2016

XXV DOMINGO DO TEMPO COMUM





Para entendermos a passagem do Evangelho de hoje temos que fazer a seguinte observação: Jesus usou a palavra "mamon" 

"Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro."

Respeitando a tradução do nosso Lecionário melhor seria dizer "vós não podeis servir a Deus e a mamon". Sendo assim para entendermos melhor a mensagem de hoje segue a explicação da palavra "mamon" e a nossa homilia.


Mamon


Mamon é um termo, derivado da Bíblia, usado para descrever riqueza material ou cobiça, na maioria das vezes, mas nem sempre, personificado como uma divindade. A própria palavra é uma transliteração da palavra hebraica "Mamom" (מָמוֹן), que significa literalmente "dinheiro". Como ser, Mamon representa o terceiro pecado, a Ganância ou Avareza, também o anticristo, devorador de almas, e um dos sete príncipes do Inferno. Sua aparência é normalmente relacionada a um nobre de aparência deformada, que carrega um grande saco de moedas de ouro, e "suborna" os humanos para obter suas almas. Em outros casos é visto com uma espécie de pássaro negro (semelhante ao Abutre), porém com dentes capazes de estraçalhar as almas humanas que comprara.

História

Na era pré-cristã eram cultuados muitos deuses. Mamon, contudo, não era o nome de uma divindade e sim um termo de origem hebraica que significa dinheiro, ou bens materiais. No Evangelho, a palavra é utilizada quando afirma que não é possível servir simultaneamente a Deus e a Mamon (Lucas 16:13). O termo, no texto original, também é citada no Evangelho de Mateus:

“ Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem traça nem ferrugem corroem e onde ladrões não minam nem roubam: Para onde está o teu tesouro, aí estará o seu coração também. Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.» (Mateus 6:19-24) ”

Desta forma Mamon acabou por tornar-se, ao longo da história, e devido as diversas traduções da Bíblia, a representação de uma entidade maligna ou demônio.

Literatura

Para Milton, em sua obra Paraíso Perdido, Mamon é um demônio que constrói para Satã um palácio com veios de ouro ardente. Goethe, na primeira parte de Fausto, utiliza a palavra em ambos os sentidos de "ouro" e de "entidade demoníaca".

Somerset Maugham na sua obra "Maquiavel e a Dama" refere ser possível servir a Deus e a Mammon quando, no enredo, o Papa e seu filho conseguem matar dois membros da família Orsini (Itália) - Pagolo Orsini e o Cardeal Orsini - seus inimigos pessoais beneficiando assim dos favores de César Bórgia e ao mesmo tempo eliminando dois inimigos da Igreja.




Dinheiro como meio

Qual a finalidade dos bens? Sem dúvida proporcionar uma vida com dignidade e bem-estar. E o que fazem muitas pessoas com o dinheiro? Trabalham para acumular. Tornam o acúmulo o grande objetivo da vida. Aqui, a pergunta inevitável: Conseguem se realizar desse modo? Poucos, ou ninguém.

Exploração. Buscam ter mais a qualquer preço. Para alertá-los são necessários os profetas. Existem hoje? Você poderia ser um deles? Por que não? Amós era um camponês pobre de Judá, no sul do país. Lá pelo ano 760 a.C. assumiu a difícil missão de ser profeta no norte do país, em Israel, no tempo do rei Jeroboão II. Qual era a situação econômica do país? Ruim. Não estava mais em situação favorável há algum tempo. Os líderes e os comerciantes faziam o que era inconcebível aos olhos de Deus: exploravam os pobres. Deus passou, então, a alertar contra isso através de Amós. E hoje, você conhece alguém bem sucedido que não é um explorador?

Ganância. Qual era a ambição dos comerciantes da época de Amós? O lucro indevido. Para tanto, vendiam até o refugo dos cereais e violavam a balança. Para eles, não importavam as festas religiosas, a lua nova e o sábado, oportunidades em que todos celebravam e descansavam. Era perda de lucros. Para Amós, essa atitude decretava o fim do povo eleito. Eles se perguntavam: “Quando vai passar o Sábado, para abrirmos oarmazém, para diminuir as medidas, aumentar o peso e viciar a balança, para comprar os pobres pordinheiro, o necessitado por um par de sandálias, e vender o refugo do trigo?” (Am 8,5-6). Hoje também acontece estas coisas, ou algo equivalente?

Hoje a situação não mudou muito. Apenas os modos: pagam-se baixos salários, exigem-se horas extras que não são pagas, humilham-se os funcionários, os chefes cobram de forma impositiva tratando subordinados como coisas, aumenta-se o lucro, mas nada dele é repartido com os que produzem. Há patrões que exploram. E os que exploram os patrões? Uns cometem a injustiça tanto quanto os outros.

Endeusamento do dinheiro. Jesus não ensinou que o dinheiro não presta e que não precisamos dele. Ou ensinou? Pelo contrário, até pediu que cumprisse sua destinação: “Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Mt 22,21). Observou bem? Jesus não está se colocando contra o dinheiro, mas a favor de uma economia que gera a vida. “Então o problema não é o dinheiro?” pode estar pensando você. Não. Os bens não são em si negativos, e sim, o seu uso desequilibrado. O problema é que quando uns acumulam e outros ficam sem nada.

Mãos puras. Os bens tornam-se ídolos que oprimem, geram fome, desemprego, falta de moradia. E os que exploram e também participam de cultos, que dizer deles? Ambiguidade incompatível. Cultivam falsa espiritualidade, permeada de mentiras, de incoerência. Quem acumula bens e espezinha a dignidade dos outros, seus bens são obtidos injustamente. Muitos falam com Deus e adoram o deus dinheiro conquistado com mãos sujas de idolatria, de apego a bens terrenos, de ressentimento com os outros. Quero, pois, queos homens orem em todo lugar, levantando as mãos puras, superando todo ódio e ressentimento (1Tm 2,8).

Bens. Enfim, essa é a situação generalizada frente aos bens. Eles nos foram dados para nos servir e não para que lhes sirvamos. O dinheiro é meio; não pode ser fim. Serve à nossa realização aqui na terra, enquanto caminhamos com os olhos fitos no céu. Fitos no céu; não só na terra. Se nos fixamos apenas na terra e não olhamos para o céu, nos perdemos. Tenho os olhos fixos no Senhor, pois ele livra do laço omeu pé (Sl 25,15).

É preciso, pois, acumular tesouros para o futuro. Não adianta tesouros que nos serão tirados na hora da morte e nos despacharão nus, sem nada.

Não vale a pena lutar só por estes bens. Vale?