segunda-feira, outubro 31, 2016

PAPA NA SUÉCIA



A seguir, a íntegra do discurso.

Queridos irmãos e irmãs!

Dou graças a Deus por esta comemoração conjunta dos quinhentos anos da Reforma, que estamos a viver com espírito renovado e conscientes de que a unidade entre os cristãos é uma prioridade, porque reconhecemos que, entre nós, é muito mais o que nos une do que aquilo que nos separa. O caminho empreendido para a alcançar já é um grande dom que Deus nos concede e, graças à sua ajuda, estamos reunidos aqui hoje, luteranos e católicos, em espírito de comunhão, para dirigir o nosso olhar ao único Senhor, Jesus Cristo.

O diálogo entre nós permitiu aprofundar a compreensão mútua, gerar confiança recíproca e confirmar o desejo de caminhar para a plena comunhão. Um dos frutos produzidos por este diálogo é a colaboração entre distintas organizações da Federação Luterana Mundial e da Igreja Católica. Hoje, graças a este novo clima de compreensão, Caritas Internationalis e Lutheran World Federation World Service assinarão uma declaração comum de acordos que visam desenvolver e consolidar uma cultura de colaboração para a promoção da dignidade humana e da justiça social. Saúdo cordialmente os membros de ambas as organizações que, num mundo dividido por guerras e conflitos, foram e são um exemplo luminoso de dedicação e serviço ao próximo. Exorto-vos a prosseguir pelo caminho da cooperação.

Ouvi atentamente os testemunhos de como, no meio de tantos desafios, dia após dia dedicam a vida a construir um mundo que corresponda cada vez mais aos desígnios de Deus. Pranita referiu-se à criação. É verdade que toda a criação é uma manifestação do amor imenso de Deus para conosco; por isso podemos também contemplar a Deus por meio dos dons da natureza. Compartilho a tua consternação pelos abusos que danificam o nosso planeta, a nossa casa comum, com graves consequências também sobre o clima. Como justamente recordaste, os maiores impactos recaem frequentemente sobre as pessoas mais vulneráveis e com menos recursos, que se veem forçadas a emigrar para se salvar dos efeitos das mudanças climáticas. Todos somos responsáveis pela salvaguarda da criação, e de modo particular nós cristãos. O nosso estilo de vida, os nossos comportamentos devem ser coerentes com a nossa fé. Somos chamados a cultivar uma harmonia com nós mesmos e com os outros, mas também com Deus e com a obra das suas mãos. Pranita, encorajo-te a continuares no teu compromisso a favor da nossa casa comum.

Mons. Héctor Fabio informou-nos sobre o trabalho conjunto que católicos e luteranos realizam na Colômbia. É uma boa notícia saber que os cristãos se unem para dar vida a processos comunitários e sociais de interesse comum. Peço-vos uma oração especial por aquela terra maravilhosa para que, com a colaboração de todos, se possa chegar finalmente à paz, tão desejada e necessária para uma digna convivência humana. Seja uma oração que abrace também a todos os países onde perduram graves situações de conflito.

Marguerite chamou a nossa atenção para o trabalho em prol das crianças vítimas de tantas atrocidades e para o compromisso a favor da paz. É algo admirável e, simultaneamente, um apelo para tomar a sério inúmeras situações de vulnerabilidade que padecem tantas pessoas indefesas, aquelas que não têm voz. Aquilo que tu consideras como uma missão, foi uma semente que produziu frutos abundantes, e hoje, graças a esta semente, milhares de crianças podem estudar, crescer e recuperar a saúde. Obrigado pelo facto de agora, mesmo no exílio, continuares a comunicar uma mensagem de paz. Disseste que, todos os que te conhecem, pensam que aquilo que fazes é uma loucura. Sim, é a loucura do amor a Deus e ao próximo! Quem dera que esta loucura pudesse propagar-se, iluminada pela fé e a confiança na Providência! Segue em frente; e possa aquela voz de esperança que ouviste no início da tua aventura continuar a estimular o teu coração e o coração de muitos jovens.

Rose, a mais jovem, ofereceu um testemunho verdadeiramente comovente. Soube tirar proveito do talento que Deus lhe deu através do desporto. Em vez de malbaratar as suas forças em situações adversas, empregou-as numa vida fecunda. Enquanto ouvia a tua história, vinha-me à mente a vida de tantos jovens que precisam de testemunhos como o teu. Gostaria de lembrar que todos podem descobrir esta condição maravilhosa de ser filhos de Deus e o privilégio de ser queridos e amados por Ele. Rose, de coração te agradeço pelos teus esforços e cuidados para animar outras meninas a regressar à escola e também pelas orações que rezas todos os dias pela paz no jovem Estado do Sudão do Sul que tanto precisa dela.

Depois de ter ouvido estes testemunhos corajosos, que nos fazem pensar na nossa vida e no modo como respondemos às situações de necessidade que existem ao nosso lado, quero agradecer a todos os governos que prestam assistência aos refugiados, aos deslocados e àqueles que pedem asilo, porque cada ação em favor destas pessoas que precisam de proteção constitui um grande gesto de solidariedade e reconhecimento da sua dignidade. Para nós, cristãos, é uma prioridade sair ao encontro dos descartados e marginalizados do nosso mundo, tornando palpável a ternura e o amor misericordioso de Deus, que não descarta ninguém, mas acolhe a todos.

Daqui a pouco ouviremos o testemunho do Bispo D. Antoine, que vive em Aleppo, cidade exausta pela guerra, onde se desprezam e espezinham até mesmo os direitos mais fundamentais. As notícias referem-nos diariamente o sofrimento indescritível causado pelo conflito sírio, que dura já há mais de cinco anos. No meio de tanta devastação, é verdadeiramente heroica a permanência lá de homens e mulheres para prestar assistência material e espiritual aos necessitados. E é admirável também que tu, querido irmão, continues a trabalhar no meio de tantos perigos para nos contares a dramática situação dos sírios. Cada um deles está presente no nosso coração e na nossa oração. Imploremos a graça da conversão dos corações de quantos têm a responsabilidade dos destinos daquela região.

Queridos irmãos e irmãs, não nos deixemos abater pelas adversidades. Que estas histórias nos estimulem e deem novo impulso para trabalharmos cada vez mais unidos. Quando voltarmos às nossas casas, levemos o compromisso de realizar cada dia um gesto de paz e reconciliação para sermos testemunhas corajosas e fiéis de esperança cristã.

Fonte:http://br.radiovaticana.va


XXXI DOMINGO DO TEMPO COMUM



Lucas narra o episódio de Zaqueu para que seus leitores conheçam melhor o que podem esperar de Jesus: o Senhor , que eles invocam e seguem nas comunidades cristãs, “veio procurar o que estava perdido”. Não devem esquecer isso.

Ao mesmo tempo, seu relato ajuda a responder à pergunta que não poucos trazem em seu interior : ainda posso mudar? Já não é demasiado tarde para refazer uma vida que, em boa parte,pus a perder? Que passos posso dar?

Zaqueu é descrito com dois traços que definem com precisão sua vida. É “chefe dos publicanos” e é “rico”. Em Jericó todos sabem que ele é um pecador. Um homem que não serve a Deus , mas ao dinheiro. Sua vida , como tantas outras, é pouco humana.

No entanto , Zaqueu “procura ver Jesus”. Não é mera curiosidade . Quer saber quem Ele é, o que se encerra neste profeta que tanto atrai as pessoas . Não é tarefa fácil para um homem instalado em seu mundo . Mas este desejo de Jesus vai mudar a sua vida.

O homem terá que superar diferentes obstáculos. É de “baixo estatura', sobretudo porque sua vida não está motivada por ideias muito nobres. As pessoas são outro impedimento : ele terá que superar preconceitos sociais que lhe tornam difícil o encontro pessoal com Jesus .

Mas Zaqueu prossegue sua busca com simplicidade e sinceridade . Corre para adiantar-se à multidão e sobe numa árvore como uma criança. Não pensa em sua dignidade de senhor importante. Só quer encontrar o momento e o lugar adequado para entrar em contato com Jesus . Quer vê-lo .

É então que ele descobre que também Jesus o está procurando , porque, ao chegar àquele lugar , fixa nele seu olhar e lhe diz: “O encontro será hoje mesmo em tua casa de pecador”. Zaqueu desce e o recebe em sua casa, cheio de alegria. Há momentos decisivos em que Jesus passa por nossa vida porque quer salvar o que nós estamos pondo a perder, Não devemos deixá-lo escapar.

E, no entanto, Jesus passa em nossa vida sempre querendo nos encontrar. Ele veio ao mundo para nos encontrar e nós podemos encontrá-lo na vida diária. A misericórdia divina para conosco é tamanha, em Jesus, que ele não condena Zaqueu, mas se convida para entrar na sua casa, para entrar na sua vida. Se Zaqueu não descesse da árvore do seu orgulho, da árvore da indiferença, da árvore da prepotência, não teria recebido Jesus em sua casa. O encontro com Jesus acontece quando descemos de nossas árvores, principalmente aquelas que nos colocam acima dos outros.

O convertido é aquele que se propõe a ficar de pé diante de Jesus, como fez Zaqueu, e se prontifica a partilhar o que tem com os mais pobres, a restituir aquilo que não é dele. Essa restituição é uma obra de misericórdia, que conhecemos como esmola. A esmola não dá ao pobre o que tenho de sobra, mas aquilo que é dele e está comigo. Assim fez Zaqueu.

















sábado, outubro 29, 2016

PAPA FRANCISCO NA SUÉCIA



“Do conflito à comunhão. Juntos na esperança” é o lema da 17ª viagem apostólica internacional do Papa Francisco que visitará a Suécia de 31 de outubro a 1º de novembro, por ocasião da celebração ecumênica dos 500 anos da Reforma protestante e em agradecimento pelos 50 anos de diálogo oficial entre as duas Confissões. No dia 1º, o Pontífice celebrará a Missa para a pequena comunidade católica sueca. A este respeito, o Centro Televisivo Vaticano ouviu o Cardeal Secretário de Estado Pietro Parolin:

“Em 1517, o monge Lutero, na cidade de Wittemberg, contestou publicamente a venda de indulgências, e também em um contexto de grandes mudanças políticas, sociais e econômicas da sociedade daquele tempo, deu início a um processo de transformações que levou, infelizmente, à divisão e à separação das Igrejas no Ocidente, e acompanhado por lutas pelo poder, por violência, guerras, as famosas guerras de religiões que depois se seguiram. E a partir daquela época, praticamente os centenários da Reforma foram sempre recordados, foram sempre comemorados de forma polêmica, com um espírito de confronto e talvez se possa falar mesmo de hostilidades. Esta vez, pelo contrário, não é assim... Pela primeira vez católicos com a presença do Papa e luteranos, celebram juntos este quinto centenário da Reforma. E eu penso realmente que se possa falar de um momento histórico, se possa falar realmente de um marco no caminho da reconciliação e da busca comum da unidade entre as Igrejas e as comunidades eclesiais. E este momento assim tão importante é fruto do diálogo que se desenvolveu nestes 50 anos, a partir da solicitação do Concílio Vaticano II. Um diálogo que buscou superar as dificuldades, buscou criar confiança entre as partes e buscou esclarecer, segundo o princípio enunciado já por São João XXIII, aquilo que une, mais do que aquilo que divide e separa. Um diálogo em que um dos pontos centrais foi precisamente a assinatura, em 1999, da Declaração Comum sobre a Doutrina da Justificação, um dos pontos que estavam na origem e que tornaram-se precisamente o centro da polêmica. Portanto, é de agradecer ao Senhor por se ter chegado a este ponto, que é o fruto de um caminho que se está levando em frente há tempos, e pedir a Ele para nos ajudar, também por meio deste momento de comemoração comum, de prosseguir no caminho do diálogo e da busca da unidade da Igreja”.

CTV: Depois da oração ecumênica, haverá um momento de festa e testemunho, dirigido sobretudo aos jovens...

“Sim, me parece que se realizará no Estádio de Malmö, e será um momento festivo, um momento de alegria voltado sobretudo aos jovens. Soube que dentro deste momento de celebração haverá também a assinatura entre a seção de serviço para o mundo da Federação Luterana Mundial e a Caritas Internationalis. Como que por dizer que esta reconciliação que estamos buscando deve acontecer sobretudo em vantagem do comum testemunho em relação ao mundo, deve traduzir-se em um encontro, deve traduzir-se em um comportamento de amor compassivo em relação às tantas pessoas que sofrem pelas mais diversas causas no mundo. E obviamente os jovens são chamados em primeira pessoa a assumir este desafio, porque os jovens são o futuro e a esperança, como tantas vezes se disse, da Igreja. E então, a eles é dirigido de maneira especial este momento de celebração, que deve também traduzir-se em um compromisso em relação a um testemunho comum”.

CTV: Os temas da defesa da criação e da solidariedade pelos últimos estarão no centro destes testemunhos...

“É muito importante encontrar âmbitos comuns nos quais este testemunho possa ser traduzido, e me parece que a solidariedade em relação aos últimos e a defesa e a tutela da casa comum possam ser realmente âmbitos de compromisso sério e compromisso eficaz”.

CTV: A Suécia é um país muito secularizado, mesmo que ultimamente se registre um novo interesse pela religião. O testemunho comum dos católicos e luteranos poderá abrir uma brecha neste individualismo e materialismo?

“Certamente, basta recordar a palavra de Jesus: por isto acreditarão, na medida em que vocês derem um testemunho comum. Evidentemente estes são os perigos das nossas sociedades secularizadas: por um lado este fechamento em si mesmas, sem abertura aos outros, e aqui podemos recordar a insistência do Papa Francisco sobre a cultura do encontro, e me parece que a própria comemoração deseja sublinhar esta dimensão, porque fala de passar dos conflitos à comunhão, e depois diz “unidos na esperança”: e a comunhão significa justamente a superação do individualismo, a superação do fechamento em si mesmo, a superação do dobrar-se sobre si mesmo, que no final das contas, é a origem de todos os conflitos. E isto os cristãos o devem fazer sobretudo com o seu exemplo de comunhão, é inútil falar de comunhão se depois cada um segue por conta própria. Portanto, me parece que deste ponto de vista, será importante este testemunho comum. E depois contra o materialismo, que é um fechamento do nosso horizonte somente aos valores terrenos, às realidades terrenas, sem esta abertura ao transcendente, sem esta abertura a Deus. Assim católicos e luteranos são chamados a testemunhar juntos, em nome da fé comum em Jesus Salvador, precisamente toda a beleza, todo o esplendor e toda a alegria da fé, que têm e que testemunha”.

CTV: A pequena comunidade dos católicos suecos está crescendo também graças à imigração. O gesto ecumênico do Papa os ajudará a crescer também na comunhão com os luteranos?

“Eu acredito que esta presença do Papa é um grande estímulo para a comunidade católica a continuar neste caminho da busca da unidade, neste caminho ecumênico. Hoje a escolha ecumênica é uma escolha irreversível, e não obstante tenha conhecido e conheça também dificuldades, acredito que se deva seguir em frente corajosamente. E neste sentido penso que a comunidade católica na Suécia - que como você justamente dizia é formada também por tantos componentes e se está enriquecendo por isto – possa trabalhar junto com a comunidade luterana precisamente pelo testemunho cristão. E em relação a isto gostaria de recordar uma declaração que foi feita recentemente e que me parece muito indicativa do espírito com que católicos e luteranos querem prosseguir. Diz assim: “Juntos católicos e luteranos se aproximarão sempre mais ao seu comum Senhor e Redentor Jesus Cristo. Vale a pena manter o diálogo. É possível deixar para trás os conflitos. O ódio e a violência, mesmo motivados pela religião, não deveriam ser banalizados, ou mesmo justificados, mas sim rejeitados com força. As recordações obscuras podem desaparecer, uma história dolorosa não exclui a possibilidade de um futuro rico de promessas. É possível chegar do conflito à comunhão, e percorrer este caminho juntos, cheios de esperança. A reconciliação traz consigo a força de nos tornar livres, de dirigir-se uns aos outros, mas também de dedicar-nos aos outros no amor e no serviço”. São palavras muito bonitas, sobretudo este futuro rico de promessas. Esperemos que esta comemoração comum abra ao futuro de Deus, que é sempre um futuro rico de promessas”.

(JE)

Fonte:http://pt.radiovaticana.va


quinta-feira, outubro 27, 2016

MALEDICÊNCIA,POR DOM FERNANDO RIFAN


Nesse tempo de internet, em que se pode anonimamente falar mal à vontade de todo o mundo, em que se compartilham notícias sem preocupação com a verdade delas, em que se pode postar boatos que denigrem o bom nome das pessoas, em que se pode dizer meias verdades que impressionam e destroem a fama alheia, vale a pena recordar o que dizem os santos a respeito desse vício, que leva o nome de maledicência. O exagero, a caricatura, a meia-verdade, a reticência, a suspeita lançada ao ar, são tipos de maledicência que se assemelham à mentira, e até piores do que ela, por serem mais sedutoras.

O Catecismo da Igreja Católica ensina: “Toda pessoa goza de um direito natural à honra do próprio nome, à sua reputação e ao seu respeito. Dessa forma, a maledicência e a calúnia ferem as virtudes da justiça e da caridade” (C.I.C. 2479).
“Não procures fazer figura pondo-te a criticar os outros e aprende a tornar mais perfeita a tua vida antes que denegrir a dos outros. São verdadeiramente poucos os que sabem afastar-se deste defeito, e é bem raro encontrar alguém que queira mostrar-se tão irrepreensível, na sua vida, que não critique com satisfação a vida alheia. Não há outra coisa, de fato, que ponha a alma em tanto barulho e que torne o espírito tão volúvel e leviano quanto o prestar fé com facilidade a tudo, e dar ouvido temerariamente às palavras dos críticos. E daí que surgem discórdias sobre discórdias e sentimentos de ódio que não têm motivo de ser. É justamente este defeito que frequentemente torna inimigas pessoas que, antes, eram amigas do peito. Se este mal está universalmente difuso, se este vício está vivo e forte em muitos, é justamente porque encontra, quase em todos, ouvidos complacentes” (São Jerônimo, Carta IV, 148, 16).
“Quem tira injustamente a boa fama ao seu próximo, além do pecado que comete, está obrigado à restituição inteira e proporcionada à natureza, qualidade e circunstância da maledicência, porque ninguém pode entrar no céu com os bens alheios, e entre os bens exteriores a fama e a honra são os mais preciosos e os mais caros... A maledicência, afinal, proferida a modo de gracejo, é a mais cruel de todas... Nunca digas: fulano é um bêbado ou ladrão, mesmo que o vejas uma vez embriagar-se ou roubar; seria uma inverdade, porque uma só ação não dá nome às coisas... Noé e Ló embriagaram-se uma vez e nem por isso foi bêbado nenhum dos dois. Nem tão pouco foi São Pedro um blasfemador e sanguinário, porque blasfemou um dia e feriu um homem uma vez. O nome de vicioso ou virtuoso supõe um hábito contraído por muitos atos repetidos do vício ou duma virtude... Todas as coisas aparecem amarelas aos olhos dos achacados de icterícia... A malícia do juízo temerário, dum modo semelhante a esta doença, faz aparecer tudo mau aos olhos dos que a apanharam... Eis aí como devemos julgar do próximo: o melhor possível; e, se uma ação tivesse cem aspectos diferentes, deveríamos encara-la unicamente pelo lado mais belo” (São Francisco de Sales, Filoteia).

“Se alguém não peca pela língua, esse é perfeito” (Tg 3, 2). 

*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

quarta-feira, outubro 26, 2016

FESTA DA DEDICAÇÃO DA CATEDRAL DE SANTA MARIA MAIOR, LISBOA


Celebramos hoje a dedicação desta Sé como Igreja Mãe de Lisboa. A dedicação significa a consagração de um templo ao serviço do Senhor. Normalmente ela dá sentido sagrado a um edifício construído pela arte e engenho humanos. Mas neste caso tratou-se de consagrar ao culto cristão um templo muçulmano. Diz Veríssimo Serrão na sua História de Portugal: "No dia 1 de Novembro realizou-se a sagração da antiga mesquita, transformada em Sé Catedral, assistindo vários prelados e o Bispo de Coimbra, D. João Anaia".

Certamente por coincidir com a festa de Todos os Santos, a festa da Dedicação da Catedral não foi fixada no dia 1 de Novembro, mas em 25 de Outubro, dia da reconquista cristã da cidade de Lisboa. Este pormenor pode alargar, simbolicamente, o sentido desta festa. Não foi apenas a Catedral, mas toda a Cidade de Lisboa, que foi dedicada ao Senhor. Aliás a Catedral é o símbolo visível da unidade de toda a comunidade cristã, ela sim, o verdadeiro templo do Senhor. Esta Igreja chama-se Catedral porque nela está a Cátedra do Bispo, sucessor dos Apóstolos, garantia visível da vitalidade e da unidade da Igreja. Da sua Cátedra ele ensina, como mestre da fé; aqui ele congrega continuamente a Igreja, pela Palavra, para celebrar a fé e partir para a cidade, com o ardor das testemunhas e a generosidade da caridade. Ele fundamenta e sustenta a Igreja Diocesana. É assim que o Concílio Vaticano II define uma Diocese: "é uma porção do Povo de Deus, confiada a um Bispo para que ele, com a ajuda do seu presbitério, seja o seu pastor. Assim, a Diocese, unida ao seu pastor e por ele reunida no Espírito Santo, graças ao Evangelho e à Eucaristia, constitui uma Igreja particular, na qual está verdadeiramente presente e actuante, a Igreja de Cristo, una, santa, católica e apostólica" (C.D. n. 11).

Esta festa da Dedicação da nossa Catedral constitui uma interpelação, a mim que sou agora o seu Bispo, e a toda a comunidade para que seja essa Igreja viva, unida na caridade, fortalecida pelo Evangelho e pela Eucaristia, santa no esforço de fidelidade a Jesus Cristo e católica na sua abertura à cidade como um todo e no seu zelo apostólico.

As leituras da sagrada Escritura, agora proclamadas, abrem-nos para duas dimensões, tremendamente actuais, do meu ministério de Bispo e do crescimento da nossa comunidade diocesana: do mesmo modo que Jesus declarou ser Ele o verdadeiro templo, presença definitiva de Deus no meio do seu Povo, também a Igreja alicerçada em Jesus Cristo e a Ele unida, de modo a ser o Seu corpo, é, no meio da cidade, o templo vivo de Deus. Escutámos o Apóstolo Paulo: "Não sabeis que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?" Em nós, Deus habita nesta cidade, encarnado em Jesus Cristo ressuscitado, continuamente presente na Igreja. Os homens e mulheres, nossos concidadãos, têm o direito de descobrir na Igreja sinais da presença do Deus vivo. Na vida das pessoas Deus não é uma conclusão, é uma experiência e ela começa, quase sempre, no convívio de pessoas que procuram Deus com pessoas que O encontraram e O glorificam, no concreto das suas vidas. A missão da Igreja na cidade não é só acção programada, é sobretudo, testemunho de vida. Porque somos o Seu templo, Deus protege a sua Igreja: "Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá. Porque o templo de Deus é santo e vós sois esse templo".
Sendo a Igreja esse templo onde Deus habita no meio da cidade, ela tem de ser uma casa aberta e acolhedora a todos os que procuram a verdade. É a mensagem do Profeta Isaías: todos, mesmo os estrangeiros, desejosos de viver em aliança com Deus, "hei-de conduzi-los à minha casa de oração. Os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão aceites no meu altar, porque a minha casa será chamada casa de oração para todos os povos".

Esta abertura da Igreja à cidade não pode ser, apenas, uma estratégia. Brota dessa intensidade de quem é o templo onde Deus habita. E Deus, no Seu amor, é abertura contínua a todos os que O procuram. A qualidade do nosso acolhimento deve corresponder à nossa capacidade de sermos testemunhas do Deus vivo. Quando nos dispomos ao diálogo sincero com os homens e mulheres de cultura, com os fazedores de opinião, com os políticos, com os organismos da sociedade civil, não temos uma estratégia de conquista ou de poder. Queremos ser apenas esse templo do Deus vivo, colocado no cimo da montanha, onde todos, os que sofrem, os que procuram, os que se interrogam, possam encontrar uma luz. É que o templo do Deus vivo tem de estar aberto a todos, pois todos podem, um dia, encontrar nele uma casa de oração.

Por isso encontro um simbolismo especial no facto de a festa da Dedicação da Catedral se celebrar no dia da reconquista da Cidade. A Igreja de Lisboa, se hoje não coincide com a Cidade, sabe que é, no meio dela, o templo do Deus Vivo, quer ser uma casa acolhedora, aberta a todos e a todos falará de Jesus Cristo. Não cubramos com o véu da nossa tibieza a glória de Jesus Cristo que habita na Sua Igreja e quer, a partir dela, atrair a Si todos os homens. "Eu quando for elevado da terra, atrairei todos a Mim". 

Sé Catedral de Lisboa, 25 de Outubro de 2002

† JOSÉ, Cardeal-Patriarca










segunda-feira, outubro 24, 2016

PADRE MARCOS,DOMINGO EM FÁTIMA



No fariseu e no publicano da parábola, Lucas põe em confronto dois tipos de atitude face a Deus.
O fariseu é o modelo de um homem irrepreensível face à Lei, que cumpre todas as regras e leva uma vida íntegra. Ele está consciente de que ninguém o pode acusar de cometer acções injustas, nem contra Deus, nem contra os irmãos (e, aparentemente, é verdade, pois a parábola não nos diz que ele estivesse a mentir). Evidentemente, está contente (e tinha razões para isso) por não ser como esse publicano que também está no Templo: os fariseus tinham consciência da sua superioridade moral e religiosa, sobretudo em relação aos pecadores notórios (como é o caso deste publicano).
O publicano é o modelo do pecador. Explora os pobres, pratica injustiças, trafica com a miséria e não cumpre as obras da Lei. Ele tem, aliás, consciência da sua indignidade, pois a sua oração consiste apenas em pedir: “meu Deus, tende compaixão de mim que sou pecador”.
O comentário final de Jesus sugere que o publicano se reconciliou com Deus (a expressão utilizada é “desceu justificado para sua casa” – o que nos leva à doutrina paulina da justificação: apesar de o homem viver mergulhado no pecado, Deus, na sua misericórdia infinita e sem que o homem tenha méritos, salva-o). Porquê?
O problema do fariseu é que pensa ganhar a salvação com o seu próprio esforço. Para ele, a salvação não é um dom de Deus, mas uma conquista do homem; se o homem levar uma vida irrepreensível, Deus não terá outro remédio senão salvá-lo. Ele está convencido de que Deus lhe deve a salvação pelo seu bom comportamento, como se Deus fosse apenas um contabilista que toma nota das acções do homem e, no fim, lhe paga em consequência. Ele está cheio de auto-suficiência: não espera nada de Deus, pois – pensa ele – os seus créditos são suficientes para se salvar. Por outro lado, essa auto-suficiência leva-o, também, ao desprezo por aqueles que não são como ele; considera-se “à parte”, “separado”, como se entre ele e o pecador existisse uma barreira… É meio caminho andado para, em nome de Deus, criar segregação e exclusão: é aí que leva a religião dos “méritos”.
O publicano, ao contrário, apoia-se apenas em Deus e não nos seus méritos (que, aliás, não existem). Ele apresenta-se diante de Deus de mãos vazias e sem quaisquer pretensões; entrega-se apenas nas mãos de Deus e pede-Lhe compaixão… E Deus “justifica-o” – isto é, derrama sobre ele a sua graça e salva-o – precisamente porque ele não tem o coração cheio de auto-suficiência e está disposto a aceitar a salvação que Deus quer oferecer a todos os homens.
Esta parábola, destinada a “alguns que se consideravam justos e desprezavam os outros”, sugere que esses que se presumem de justos estão, às vezes, muito longe de Deus e da salvação.




Para reflectir e actualizar este texto, considerar os seguintes dados:

• Este texto coloca, fundamentalmente, o problema da atitude do homem face a Deus. Desautoriza completamente aqueles que se apresentam diante de Deus carregados de auto-suficiência, convencidos da sua “bondade”, muito certos dos seus méritos, como se pudessem ser eles a exigir algo de Deus e a ditar-Lhe as suas condições; propõe, em contrapartida, uma atitude de reconhecimento humilde dos próprios limites, uma confiança absol
uta na misericórdia de Deus e uma entrega confiada nas mãos de Deus. É esta segunda atitude que somos convidados a assumir.

• Este texto coloca, também, a questão da imagem de Deus… Diz-nos que Deus não é um contabilista, uma simples máquina de recompensas e de castigos, mas que é o Deus da bondade, do amor, da misericórdia, sempre disposto a derramar sobre o homem a salvação (mesmo que o homem não mereça) como puro dom. A única condição para “ser justificado” é aceitar humildemente a oferta de salvação que Ele faz.

• A atitude de orgulho e de auto-suficiência, a certeza de possuir qualidades e méritos em abundância, acaba por gerar o desprezo pelos irmãos. Então, criam-se barreiras de separação (de um lado os “bons”, de outro os “maus”), que provocam segregação e exclusão… Isto acontece com alguma frequência nas nossas comunidades cristãs (e até em muitas comunidades religiosas). Como entender isto, à luz da parábola que Jesus hoje nos propõe?

• Nos últimos séculos os homens desenvolveram, a par de uma consciência muito profunda da sua dignidade, uma consciência muito viva das suas capacidades. Isto levou-os, com frequência, à presunção da sua auto-suficiência… O desenvolvimento da tecnologia, da medicina, da química, dos sistemas políticos convenceram o homem de que podia prescindir de Deus pois, por si só, podia ser feliz. Onde nos tem conduzido esta presunção? Podemos chegar à salvação, à felicidade plena, apenas pelos nossos próprios meios?


Padre Marcos concelebra missa em Fátima presidida pelo Padre Duarte.
Basílica Nossa Senhora do Rosário.



















sábado, outubro 22, 2016

PADRE MARCOS NO SANTUÁRIO DE FÁTIMA





Queridos irmãos da Paróquia de São Conrado hoje, 22 de outubro , rezamos missa em Fátima , agradecendo os nossos 25 anos de Ordenação Sacerdotal , os 75 anos de vida de mamãe (D Lígia) , os 100 anos do jubileu da aparição da Virgem Maria em Fátima e os 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora da Conceição em Aparecida . 

Rezamos por todos vocês , paroquianos e funcionários , peregrinos , e pelo Brasil. 

Estivemos também em Valinhos onde rezamos o Rosário , lugar das aparições da Virgem Maria em 19 de agosto de 1917 e das 3 aparições do Anjo de Portugal em 1916 , aos Pastorinhos. 


Momentos de orações com outros peregrinos do Japão e da Espanha .

Deus abençoe 

Padre Marcos




O Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Fátima (mais conhecido, simplesmente, por Santuário de Fátima), localizado na Cova da Iria, freguesia de Fátima (Portugal), é um dos mais importantes santuários marianos do mundo. O atual reitor deste santuário é o Padre Carlos Manuel Pedrosa Cabecinhas.


Em 1917 (ano da revolução soviética), Jacinta Marto, Francisco Marto e Lúcia dos Santos (conhecidos por "os três pastorinhos"), dizem ter presenciado seis aparições de Nossa Senhora nos dias 13, de Maio a Outubro, tendo em Agosto acontecido no dia 19. No essencial da mensagem, Nossa Senhora teria pedido que se rezasse o terço todos os dias, conversão, e penitência. Numa dessas aparições, a Virgem Maria pediu para construírem uma capela naquele lugar, que actualmente é a parte central do Santuário onde está guardada uma imagem de Nossa Senhora. No decorrer dos anos, o Santuário foi sendo expandido até aos dias de hoje, existindo já duas basílicas, aumentando assim a capacidade de acolhimento de peregrinos em recinto coberto.



O Santuário de Fátima é composto principalmente pela Capelinha das Aparições, o Recinto/Esplanada do Rosário, a Basílica de Nossa Senhora do Rosário e colunatas, casa de retiros de Nossa Senhora do Carmo e Reitoria, casa de retiros de Nossa Senhora das Dores e albergue para doentes, praça Pio XII e Centro Pastoral Paulo VI, e também a vasta Basílica da Santíssima Trindade, inaugurada a 13 de Outubro de 2007. Destacam-se ainda a Capela do Lausperene (Laus Perene = Louvor Permanente) (onde está permanentemente exposto o Santíssimo Corpo de Cristo na Hóstia Consagrada) e a Capela da Reconciliação, dedicada à celebração do Sacramento da Reconciliação (Confissão).



A Capelinha das Aparições é uma capela localizada na Cova da Iria, no recinto do Santuário de Fátima em Portugal. O pedestal onde se encontra a escultura original de Nossa Senhora marca o sítio exacto onde estava a pequena azinheira sobre a qual a Santíssima Virgem Maria apareceu aos três pastorinhos de Fátima a 13 de Maio, de Junho, de Julho, de Setembro e de Outubro de 1917. 

A capelinha foi construída em resposta ao pedido de Nossa Senhora do Rosário: "Quero que façam aqui uma capela em minha honra". Edificou-se no local exacto das aparições decorridas em Fátima no ano de 1917. De 28 de Abril a 15 de Junho de 1919, a tarefa foi executada pelo pedreiro Joaquim Barbeiro da povoação de Santa Catarina da Serra.


A 13 de Outubro de 1921 passou a ser permitida oficialmente a celebração da Missa, pela primeira vez, junto à Capelinha.


Em 6 de Março de 1922, a capelinha foi dinamitada por desconhecidos, mas foi reconstruída nesse mesmo ano.


Em 1982 foi construído um vasto alpendre, tendo sido inaugurado aquando da visita do Papa João Paulo II em 12 de Maio nesse ano.


Em 1988, declarado Ano Mariano, o alpendre da capelinha foi forrado com madeira de pinho, proveniente da Rússia, norte da Sibéria. Foi escolhida esta madeira pela sua durabilidade e leveza.


A capelinha original, embora sujeita a ligeiras reparações no decorrer dos anos, mantém os traços de uma ermida popular.

Padre Givanildo presidiu a missa e padre Marcos concelebrou a eucaristia na capela Sagrada da Família pelos 25 anos de Ordenação Sacerdotal , em Fátima Portugal 22 de outubro de 2016.